quinta-feira, 27 de março de 2008

As Flores sobre as Correntes - Rubem Alves


"O sofrimento religioso é, ao mesmo tempo, expressão de um sofrimento real e protesto contra um sofrimento real. Suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito: a religião é o ópio do povo".


(K. Marx)



Entramos num outro mundo. Durkheim contem­plou as tênues cores do mundo sacral que desapa­recia, como nuvens de crepúsculo que passam de rosa ao negro, sob as mudanças rápidas da luz que mergulha. Fascinado, empreendeu a busca das origens, do tempo perdido... E lá se foi atrás da religião mais simples e primitiva que se conhecia... Compreender com esperança. . .


Marx não habita o crepúsculo. Vive já em plena noite. Anda em meio aos escombros. Analisa a dissolução. Elabora a ciência do capital e faz o diagnóstico do seu fim. Nada tem a pregar e nem oferece conselhos. Não procura paraísos perdidos porque não acredita neles. Mas dirige o seu olhar para os horizontes futuros e espera a vinda de uma cidade santa, sociedade sem opri­midos e opressores, de liberdade, de transfigu­ração erótica do corpo...


Mas o solo em que pisa desconhece o mundo sacral, de normas morais e valores espirituais. Ele é secularizado do princípio ao fim e somente conhece a ética do lucro e o entusiasmo do capital e da posse. Não importa que os capitalistas frequentem templos e façam orações, nem que construam cidades sagradas ou sustentem movi­mentos missionários, nem ainda que haja água benta na inauguração das fábricas e celebrações de ações de graças pela prosperidade, e muito menos que missas sejam rezadas pela eterna sal­vação de suas almas... Este mundo ignora os elementos espirituais. Salários e preços não são estabelecidos nem pela religião e nem pela ética. A riqueza se constrói por meio de uma lógica duramente material: a lógica do lucro, que não conhece a compaixão. Na verdade, aqueles que têm compaixão se condenam a si mesmos à destruição... Não se pode negar que os gestos e as falas ainda se referem aos deuses e aos valores morais: maquilagem, incenso, desodorante, perfu­maria, uma aura sagrada que tudo envolve no seu perfume, sem que nada se altere. E Marx tem de insistir num procedimento rigorosamente materialista de análise. De fato, materialismo que é uma exigência do próprio sistema que só conhece o poder dos fatores materiais. É a lógica do lucro e da riqueza que assim estabelece — e não as inclinações pessoais daquele que a analisava.


Poucas pessoas sabem que o pensamento de Marx sobre a religião tomou forma e se desen­volveu em meio a uma luta política que travou. E a luta não foi nem com clérigos e nem com teólogos, mas com um grupo de filósofos que entendia que a religião era a grande culpada de todas as desgraças sociais de então, e desejava estabelecer um programa educativo com o obje-tivo de fazer com que as pessoas abandonassem as ilusões religiosas. Marx estava convencido de que a religião não tinha culpa alguma. E que não existia nada mais impossível que a elimi­nação de ideias, ainda que falsas, das cabeças dos homens. . . Porque as pessoas não têm certas ideias porque querem. E imagino que clérigos e religiosos poderão esfregar as mãos com prazer: "Finalmente descobrimos um Marx do nosso lado". Nada mais distante da verdade. A religião não era culpada pela simples razão de que ela não fazia diferença alguma. Como poderia um eunuco ser acusado de deflorar uma donzela? Como poderia a religião ser acusada de responsa­bilidade, se ela não passava de uma sombra, de um eco, de uma imagem invertida, projetada sobre a parede? Ela não era causa de coisa alguma. Um sintoma apenas. E, por isto mesmo, os filó­sofos que se apresentavam como perigosos revo­lucionários não passavam de réplicas de D. Quixote, investindo contra moinhos de vento.


Marx não desejava gastar energias com dragões de papel. Estava em busca das forças que realmente movem a sociedade. Porque era aí, e somente aí, que as batalhas deveriam ser travadas.


Que forças eram estas?


Os filósofos revolucionários a que nos refe­rimos, hegelianos de esquerda, desejavam que a sociedade passasse por transformações radicais. E eles entendiam que a ordem social era construí­da com uma argamassa em que as coisas materiais eram cimentadas umas nas outras por meio de ideias e formas de pensar. Assim, armas, máquinas, bancos, fábricas, terras se integravam por meio da religião, do direito, da filosofia, da teologia. . . A conclusão político-tática se segue necessaria­mente: se houver uma atividade capaz de dissolver ideias e modificar formas antigas de pensar, o edifício social inteiro começará a tremer. E foi assim que eles se decidiram a travar as batalhas revolucionárias no campo das ideias, usando como arma alguma coisa que naquele tempo se chamava crítica. Hoje, possivelmente, eles falariam de conscientização. E investiram contra a religião.


Marx se riu disto. Os hegelianos vêem as coisas de cabeça para baixo. Pensam que as ideias são as causas da vida social, quando elas nada mais são que efeitos, que aparecem depois que as coisas aconteceram. . . "Não é a consciência que determina a vida; é a vida que determina a cons­ciência." E ele afirmava:



"Até mesmo as concepções nebulosas que existem nos cérebros dos homens são necessa­riamente sublimadas do seu processo de vida, que é material, empiricamente observável e determinado por premissas materiais. A produção de ideias, de conceitos, da cons­ciência, está desde as suas origens diretamente entrelaçada com a atividade material e as rela­ções materiais dos homens, que são a linguagem da vida real. A produção das ideias dos homens, o pensamento, as suas relações espirituais aparecem, sob este ângulo, como uma ema­nação de sua condição material. A mesma coisa se pode dizer da produção espiritual de um povo, representada pela linguagem da política, das leis, da moral, da religião,da metafísica. Os homens são os produtores de suas concepções".



"É o homem que faz a religião; a religião não faz o homem".


É o fogo que faz a tumaça; a fumaça não faz o fogo.


E, da mesma forma como é inútil tentar apagar o fogo assoprando a fumaça, também é inútil tentar mudar as condições de vida pela crítica da religião. A consciência da fumaça nos remete ao incêndio de onde ela sai. De forma idêntica, a consciência da religião nos força a encarar as condições materiais que a produzem.


Quem é esse homem que produz a religião?


Ele é um corpo, corpo que tem de comer, corpo que necessita de roupa e habitação, corpo que se reproduz, corpo que tem de transformar a natureza, trabalhar, para sobreviver.


Mas o corpo não existe no ar. Não o encon­tramos de forma abstraia e universal. Vemos homens indissoluvelmente amarrados aos mundos onde se dá sua luta pela sobrevivência, e exibindo em seus corpos as marcas da natureza e as marcas das ferramentas. Os bóias-frias, os pescadores, os que lutam no campo, os que trabalham nas construções, os motoristas de ônibus, os que trabalham nas forjas e prensas, os que ensinam crianças e adultos a ler — cada um deles, de ma­neira específica, traz no seu corpo as marcas do seu trabalho. Marcas que se traduzem na comida que podem comer, nas enfermidades que podem sofrer, nas diversões a que podem se dar, nos anos que podem viver, e nos pensamentos com que podem sonhar — suas religiões e espe­ranças.


Marx também sonhava e imaginava. E muito embora haja alguns que o considerem importante em virtude da ciência económica que estabeleceu, desprezando como arroubos juvenis os voos de sua fantasia, coloco-me entre aqueles outros que invertem as coisas e se detêm especialmente nas fronteiras em que o seu pensamento invade os horizontes das utopias. E Marx se perguntava sobre um outro tipo de trabalho que daria prazer e felicidade aos homens, trabalho companheiro das criações dos artistas e do prazer não utili­tário do brinquedo e do jogo... Trabalho expres­são da liberdade, atividade espiritual criadora, construtor de um mundo em harmonia com a intenção... É claro que Marx nunca viu este sonho utópico realizado em sociedade alguma. Foi ele que o construiu a partir de pequenos fragmentos de experiência, trabalhados pela memória e pela esperança. Mas são estes hori­zontes utópicos que aguçam os olhos para que eles percebam os absurdos do "topos", o lugar que habitamos. E, ao contemplar o trabalho, o que ele descobriu foi alienação do princípio ao fim.


O que é alienação?


Alienar um bem: transferir para uma outra pessoa a posse de alguma coisa que me pertence. Tenho uma casa: posso doá-la ou vendê-la a um outro. Por este processo ela é alienada. A alie­nação, assim, não é algo que acontece na cabeça das pessoas. Trata-se de um processo objetivo, externo, de transferência, de uma pessoa a outra, de algo que pertencia à primeira.


Por que o trabalho é marcado pela alienação?


Voltemos por um instante ao trabalho não alienado, criador, livre, que Marx imaginou. Sua marca essencial está nisto: o homem deseja algo. Seu desejo provoca a imaginação que visualiza aquilo que é desejado, seja um jardim, uma sinfo­nia ou um simples brinquedo. A imaginação e o desejo informam o corpo, que se põe inteiro a trabalhar, por amor ao objeto que deve ser criado. E quando o trabalho termina o criador contempla sua obra, vê que é muito boa e des­cansa...


Que acontece com aquele que trabalha dentro das atuais condições?


Em primeiro lugar, ele tem de alienar o seu desejo. Seu desejo passa a ser o desejo de outro. Ele trabalha para outro.


Em segundo lugar, o objeto a ser produzido não é resultado de uma decisão sua. Ele não está gerando um filho seu. Na verdade, ele não está metido na produção de objeto algum porque com a divisão da produção numa série de atos especializados e independentes, ele é rebaixado da condição de construtor de coisas à condição de alguém que simplesmente aperta um parafuso, aperta um botão, dá uma martelada. Se se pergun­tar a um operário de uma fábrica de automóveis: "que é que você faz?", nenhum deles dirá "eu faço automóveis. Você já viu como são bonitos os carros que fabrico?". Eles não dirão que objetos produzem, mas que função especializada seus corpos fazem: "Sou torneiro. Sou ferramenteiro. Sou eletricista".


Em terceiro lugar, e em consequência do que já foi dito, o trabalho não é atividade que dá prazer, mas atividade que dá sofrimento. O homem trabalha porque não tem outro jeito. Trabalho forçado. Seu maior ideal: a aposentadoria. O prazer, ele irá encontrar fora do trabalho. E é por isto que ele se submete ao trabalho e ao pago do salário.


Em último lugar, o trabalho cria um mundo independente da vontade de operários... e capi­talistas. Porque também os capitalistas estão alienados. Eles não podem fazer o que desejam. Todo o seu comportamento é rigorosamente determinado pela lei do lucro. Não é difícil com­preender como isto acontece. Imaginemos que você, sabendo que o bom do capitalismo é ser capitalista, e dispondo de uma certa importância ajuntada na poupança, resolva dar voos mais altos e investir na bolsa de valores. Como é que você irá proceder? Você deverá consultar tabelas que o informem dos melhores investimentos. E que é que você vai encontrar nelas? Números, nada mais. Números indicam as possibilidades de lucro. Se as firmas em que você vai investir estão derrubando florestas e provocando devas­tações ecológicas, se elas prosperam pela produção de armas, se elas são injustas e cruéis com os seus empregados, tudo isto é absolutamente irrele­vante. Estabelecida a lógica do lucro, todas as coisas — da talidomida ao napalm — se transfor­mam em mercadorias, inclusive o operário. Este é o mundo secular, utilitário, que horrori­zava Durkheim. É o mundo capitalista, regido pela lógica do dinheiro. E o que ocorre é que o mundo estabelecido pela lógica do lucro — que inclui de devastações ecológicas até a guerra — está totalmente alienado, separado dos desejos das pessoas, que prefeririam talvez coisas mais simples. . . Assim, as áreas verdes são entregues à especulação imobiliária, os índios perdem suas terras porque gado é melhor para a economia que índio, as terras vão-se transformando em desertos de cana, enquanto que rios e mares viram caldos venenosos, e os peixes bóiam, mortos...


Mas que fatores levam os trabalhadores a aceitar tal situação? Por que trabalham de forma alie­nada? Por que não saem para outra?


Porque não há alternativas. Eles só possuem os seus corpos. Para produzir deverão acoplá-los às máquinas, aos meios de produção. Máquinas e meios de produção não são seus, e são gover­nados pela lógica do lucro. E é assim que o próprio conceito de alienação nos revela uma sociedade partida entre dois grupos, duas classes sociais. Duas maneiras totalmente diferentes de ser do corpo. Os trabalhadores são acoplados às máquinas e, por isto, têm de seguir o seu ritmo e fazer o que elas exigem. Isto deixará marcas nas mãos, na postura, no rosto, nos olhos, especialmente os olhos. . . Os corpos que habitam o mundo do lucro também têm suas marcas, que vão do colarinho branco (os americanos falam mesmo nos trabalhadores white collar), passando pêlos restaurantes que frequentam, as aventuras amo­rosas que têm, e as enfermidades cardiovasculares que os afligem...


E não é necessário pensar muito para compreen­der que os interesses destas duas classes não são harmónicos. Para Marx aqui se encontra a contra­dição máxima do capitalismo: o capitalismo cresce graças a uma condição que torna o confli­to entre trabalhadores e patrões inevitável. Marx nunca pregou luta de classes. Achava tal situação detestável. Apenas como um médico que faz um diagnóstico de um paciente enfermo, ele dizia: o desenlace é inevitável porque os órgãos estão em guerra... O problema não é de natureza moral nem de natureza psicológica. Não se resolve com boa vontade por parte dos operários e genero­sidade por parte dos patrões. Nenhum salário, por mais alto que seja, eliminará a alienação. Trata-se de uma lei, sob o ponto de vista de Marx, tão rigorosa quanto a lei da química que diz: comprimindo-se o volume de um gás a pressão aumenta; expandindo-se o volume, a pressão cai. E aqui poderíamos afirmar: "Salários compri­midos ao seu mínimo produzem milagres econó­micos expandidos ao seu máximo".


Isto é a realidade: homens trabalhando, em relações uns com os outros, sob condições que eles não escolheram, fazendo com seus corpos um mundo que não desejam.. . E é disto que surgem ecos, sonhos, gritos e gemidos, poemas, filosofias, utopias, critérios estéticos, leis, consti­tuições, religiões...


Sobre o fogo, a fumaça, sobre a realidade as vozes, sobre a infra-estrutura a superestrutura, sobre a vida a consciência...


Só que tudo aparece de cabeça para baixo, confuso. Diz Marx, lá em O Capital, que só vere­mos com clareza quando fizermos as coisas do princípio ao fim, de acordo com um plano previa­mente traçado. Mas quem faz as coisas do princípio ao fim? Quem compreende o plano eral? Os presidentes? Os planejadores? Os ministros? O FMI?


Compreende-se que o que as pessoas têm nor­malmente em suas cabeças não seja conhecimento, não seja ciência, mas pura ideologia, fumaças, secreções, reflexos de um mundo absurdo.


E é aqui que aparece a religião, em parte para iluminar os cantos escuros do conhecimento. Mas, pobre dela... Ela mesma não vê. Como pretende iluminar? Ilumina com ilusões que consolam os fracos e legitimações que conso­lidam os fortes.



"A religião é a teoria geral deste mundo, o seu compêndio enciclopédico, sua lógica em forma popular, sua solene completude, sua justificação moral, seu fundamento universal de consolo e legiti­mação."



De fato, quando o pobre/oprimido, das profun­dezas do seu sofrimento, balbucia: "É a vontade de Deus", cessam todas as razões, todos os argu­mentos, as injustiças se transformam em mistérios de desígnios insondáveis e a sua própria miséria, uma provação a ser suportada com paciência,na espera da salvação eterna de sua alma. E os poderosos usam as mesmas palavras sagradas e invocam os poderes da divindade como cúmplices da guerra e da rapina. E os habitantes ori­ginais deste continente e suas civilizações foram massacrados em nome da cruz, e a expansão colonial levou consigo para a África e a Ásia o Deus dos brancos, e constituições se escrevem invocando a vontade de Deus, e um represen­tante de Deus vai ao lado daquele que foi conde­nado a morrer... Nada se altera, nada se trans­forma, mas sobre todas as coisas dos homens se espalha o perfume do incenso...


Religião, "expressão de sofrimento real, protesto contra um sofrimento real, suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito, ópio do povo".


E, desta forma, as palavras que brotam do sofrimento se transformam, elas mesmas, no bálsamo provisório para uma dor que ele é impo­tente para curar. E é por isto que é ópio, "felici­dade ilusória do povo", que deve ser abolida como condição de sua verdadeira felicidade. Mas o abandono das ilusões não se consegue por meio de uma atividade intelectual. As pessoas não podem ser convencidas a abandonar suas ideias religiosas. Ideias são ecos, fumaça, sinto­mas. . . Se elas têm tais ideias é porque a sua situação as exige. É necessário, então, que sua situação seja mudada, as fendas curadas, para que as ilusões desapareçam.



"A exigência de que se abandonem as ilusões sobre uma determinada situação, é a exigência de que se abandone uma situação que neces­sita de ilusões."



"A crítica arrancou as flores imaginárias da corrente não para que o homem viva acorren­tado sem fantasias ou consolo, mas para que ele quebre a corrente e colha a flor viva. A crítica da religião desilude o homem, a fim de fazê-lo pensar e agir e moldar a sua reali­dade como alguém que, sem ilusões, voltou à razão; agora ele gira em torno de si mesmo, o seu sol verdadeiro. A religião é nada mais que o sol ilusório que gira em torno do homem, na medida em que ele não gira em torno de si mesmo."



Marx antevê o fim da religião. Ela só existe numa situação marcada pela alienação. Desapa­recida a alienação, numa sociedade livre, em que não haja opressores, não importa que sejam capi­talistas, burocratas ou quem quer que ostente algum sinal de superioridade hierárquica, desapa­recerá também a religião. A religião é fruto da alienação. E com isto os religiosos mais devotos concordariam também. Nem no Paraíso e nem na Cidade Santa se e/nitem alvarás para a cons­trução de templos...


O equívoco é pensar que o sagrado é somente aquilo que ostenta os nomes religiosos tradicionais. Bem lembrava Durkheim que as roupas simbó­licas da religião se alteram. Onde quer que ima­ginemos valores e os acrescentemos ao real, aí está o discurso do desejo, justamente o lugar onde nascem os deuses. E Marx fala sobre uma sociedade sem classes que ninguém nunca viu, e na visão transparente e conhecimento crista­lino das coisas, e no triunfo da liberdade e no desaparecimento de opressores e oprimidos, enquanto o Estado murcha de velhice e inuti­lidade, ao mesmo tempo que as pessoas brincam e riem enquanto trabalham, plantando jardins pela manhã, construindo casas à tarde, discutindo arte à noite. . . De fato, foram-se os símbolos sagrados, justamente aqueles "já avançados em anos ou já mortos. . .". Mas eu me perguntaria se a razão por que o marxismo foi capaz de produ­zir "horas de efervescência criativa, nas quais ideias novas apareceram e novas fórmulas foram encontradas, que serviram, por um pouco, como guias para a humanidade", sim, eu me pergun­taria se tudo isto se deveu ao rigor de sua ciência ou à paixão de sua visão, se se deveu aos detalhes de sua explicação ou às promessas e esperanças que ele foi capaz de fazer nascer.. . E se isto for verdade, então, à análise que o marxismo faz da religião como ópio do povo, um outro capítulo deveria ser acrescentado sobre a religião como arma dos oprimidos, sendo que o marxismo, de direito, teria de ser incluído como uma delas. . . Parece que a crítica marxista da religião não termina com ela, mas simplesmente inaugura um outro capítulo. Porque, como Albert Camus corretamente observa, "Marx foi o único que compreendeu que uma religião que não invoca a transcendência deveria ser chamada de polí­tica...".


Capítulo extraído do livro - "O que é religião"

quinta-feira, 20 de março de 2008

Alegoria da Caverna de Platão




Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma caverna subterrânea, estando todas de costas para a entrada da caverna e acorrentadas pelo pescoço e pés, de sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa que existe. Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. E o que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade. Por fim, acabam matando aquele que retornou para dizer-lhes um monte de "mentiras".


REFLEXÃO:


Por meio desta parábola, relatada por Platão, podemos refletir um pouco acerca do que entendemos por verdade. Será que nossas verdades são as “sombras” que se encontram em nossa frente? Será que nossas verdades se resumem apenas ao que percebemos com nossos cinco sentidos? Quando acreditamos apenas no que conseguimos ver, ficamos dentro das muralhas de nossa existência, de nossos sentidos, percepções, conceitos e preconceitos. Precisamos tomar cuidado para não aniquilarmos prematuramente o que ainda não vemos. Pode ser que se perca uma ótima oportunidade de ampliar nossos conhecimentos. Acreditar nas "sombras" é um péssimo hábito que, infelizmente, está muito presente também no mundo .

quarta-feira, 19 de março de 2008

PRA PENSAR

“Acho obscena a alegação de que temos de lutar pela justiça porque essa é vontade de Deus. Quem luta pelos pobres porque Deus manda não ama os pobres. Tem é medo que Deus o castigue. Admiro aqueles que já trazem consigo esse sentimento de compaixão sem ter tido necessidade de ler sobre ele nos textos sagrados”

Rubem Alves

Rebeldes "sem calça"!








Geração bunda-mole




― O mover de Deus está aqui. Nada pode impedir você de sentir o fluir e o derramar da unção. Olhe para o irmão do seu lado e diga: “Resisti ao frio e ele fugirá de vós”.



Participar dos cultos em determinadas igrejas é um programa que exige alto grau de paciência e resignação, qualquer que seja a estação do ano. Raras comunidades mantêm-se imunes aos maneirismos e frivolidades do dialeto gospel no “momento da adoração”.



Outro expediente infalível para provocar bocejos é o recorrente saudosismo dos “bons tempos” da música cristã. Em todos os lugares, há tiozinhos de barriga protuberante repetindo que “naquela época o louvor era genuíno, sem a superficialidade de hoje”. Zzzzzz...



O que existe no hiato entre o discurso seboso que enaltece a década de 70 e essa geração que introduziu mantras e lamúrias no louvor? O expediente de encontrar culpados para eximir nossa própria culpa é de pouca valia na hora da reflexão. Se os heróis do Cazuza “morreram de overdose”, ainda mais complicada é a situação de quem encontra escassos referenciais para pautar seus sonhos.



Ignorados ou tratados como imbecis pelo meio editorial, os jovens encontraram na internet alguns expedientes para suprir essa “orfandade”. Na declinante indústria fonográfica gospel, poucos sobrevivem aos 15 minutos de fama preconizados por Andy Warhol. Mesmo assim, a aspiração ao estrelato consome a energia e o tempo de milhares de “levitas”. Claro que devidamente camuflada sob o discurso de “Deus me chamou para evangelizar através da música”. Infelizmente, poucos são vocacionados para interagir nas universidades e nos pólos culturais.



Em consonância com a poesia de Gilberto Gil, a alma de boa parte dos que pululam nos palcos musicais eclesiásticos “cheira a talco”. Necessário lembrar o outro adágio que apregoa não ser nada confiável o bumbum dos bebês. A alternância de odores sinaliza que é hora de trocar as fraldas e fazer a devida assepsia.



Líderes de todo o país sofrem nas mãos do que convencionou-se chamar de “sensibilidade dos músicos”, eufemismo para escamotear a constante contrariedade a qualquer tipo de ingerência. Se um número especial da galera é cancelado, imediatamente o grupo é banhado pela “unção do beicinho”. Fraldas cheias de novo.



Pressionados pela concorrência do vestibular e pela conquista ainda mais difícil de uma vaga no mercado de trabalho, muitos sucumbem à indolência macunaímica. Os males do sedentarismo são bem conhecidos. Desnudar a juventude evangélica de hoje revela as nádegas flácidas de uma geração que parece ter saído do nada e caminhar para o lugar nenhum. Ao contrário do filho pródigo da parábola, a herança que os jovens receberam da geração que os antecedeu não foi suficiente para grandes viagens. Em todos os sentidos.



Blaise Pascal falava em duas alternativas: desistência por meio da covardia ou o escape, por intermédio do orgulho. Será que não há luz divina no fim desse túnel?“



Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”, dizia o Che Guevara. Será que depois das gerações hippie e Coca-Cola teremos a geração H2OH, cujo conflito de “identidade” a confina em uma zona indefinida entre ser água ou refrigerante?



O conselho de Nelson Rodrigues é bem conhecido: “Jovens, envelheçam”. Minha recomendação é assaz diferente: rebelem-se. É hora de assestar contra a mediocridade reinante no meio do rebanho, contra a lassidão intelectual, contra as cassandras transmissoras do germe da culpa, contra o abuso de líderes tiranos, contra a indigência artística e até contra minhas diatribes.



Dono de lentes argutas e dramáticas para observar o mundo, Caio Fernando Abreu registrou um laivo de esperança que, a despeito de tudo e de todos, joga para escanteio minha angustiante sensação de impotência. “Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar".

sábado, 15 de março de 2008

O CRISTIANISMO A FAVOR DOS EXCLUÍDOS

Resumo:

O objetivo do artigo é o de apresentar o paradigma da libertação como agente norteador discurso teológico latino–americano surgido na década de 60 do século XX. Esta teologia caracteriza-se pela valorização da ação de Deus na história, como fonte de libertação social, e pela valorização da práxis social libertadora, como expressão de fé em um Deus libertador.
















A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: O CRISTIANISMO A FAVOR DOS EXCLUÍDOS

Alexandre Marques Cabral

A palavra teologia vem da conjugação de TÉOS e LÓGOS, dois termos gregos. Poder-se-ia dizer que teologia é todo discurso acerca de Deus. Assim, por exemplo, foi denominado por Aristóteles em seu livro “Filosofia Primeira”, que hoje conhecemos com o nome de metafísica. Para Aristóteles o TÉOS seria objeto de pesquisa da maior de todas as ciências: a ciência do ser enquanto ser – esta que hoje denominamos de metafísica. Portanto, para ser estagirita – Aristóteles, a metafísica, ou seja, a filosofia primeira, é sinônimo de teologia.
Apesar de podermos falar de teologia em um sentido lato, tal como abordamos acima, atualmente o significado deste termo difere-se deste que expusemos. Teologia hoje é o discurso racional acerca de Deus a partir dos dados advindos de um livro revelado: Bíblia, etc. À teologia compete, portanto, a atualização dos dados revelados através do discurso (lógos), segundo as exigências históricas vigentes. Com isso, se mostra o caráter transitório do discurso teológico: a transitoriedade do discurso deve-se à transitoriedade própria da história humana, da cultura e de suas diversas problemáticas. Deus, por isso, deve sempre aparecer ao homem, através do discurso teológico, historicamente situado. Esta, última informação nos leva a perceber a imbricação necessária entre teólogo, revelação e história.
Não obstante à imbricação supracitada, não poucas vezes a teologia cristã se configurou de forma totalmente anacrônica em seus discursos e, conseqüentemente, em seus conceitos. A teologia cristã durante séculos, preocupou-se com o hyperurânio de Platão, com o motor imóvel de Aristóteles, com a cidade de Deus de Agostinho, menos com as problemáticas históricas que fatalmente orientavam a vida social do homem. É comum nos depararmos com textos clássicos da teologia e sermos levados às nuvens, aos céus, como, por exemplo, num texto de Irineu ou de S. Agostinho de Hipona. Mas, qual a razão disto? Isto ocorreu por mera vontade dos teólogos? Certamente, não.
A teologia cristã configurou-se de forma anacrônica por muito tempo, devido ao instrumental filosófico que ela utilizou para discursar acerca de Deus. Tal instrumental derivava-se da metafísica clássica que tem como característica formular conceitos anacrônicos, desconsiderando o caráter histórico do homem – ou seja, desconsiderando o homem enquanto ser histórico, que se faz (constrói) no tempo. A conseqüência disto, é que os dados da revelação cristã – Bíblia – foram entendidos como realidades atemporais e ahistóricas. Por isso, por muito tempo – certamente, também ainda hoje – entendeu-se Deus, Reino dos Céus, inferno, etc., como realidades totalmente transcendentais, totalmente destacadas dos processos e fases históricas da humanidade.
Esta forma de discurso acerca de Deus foi submetida à crítica com o advento da modernidade e do pensamento contemporâneo. A metafísica, que foi a “pedra angular” da teologia clássica, foi fortemente criticada a partir da modernidade. Descobriu-se, após séculos de especulação, a história como característica essencial do homem e a cultura como âmbito de toda construção histórica. Com isso, o pensamento ocidental, largou aquele transcendentalismo metafísico, tornando-se por isso mais imamentista. Isto influenciou fortemente a teologia. O encontro do homem com Deus – chamado pela teologia da GRAÇA – passou a ser pensado como realidade histórica: Deus se manifesta ao homem situando-se histórica e culturalmente, ou seja, o encontro de Deus com o homem difere-se na história em suas diversas épocas, e difere-se na pluralidade cultural que se dá no seio da humanidade. Obviamente, isto gerou uma certa relativização no discurso sobre Deus; porém, valorizou a historicidade como característica essencial do ser humano, além de valorizar a multiplicidade de formas de Deus se apresentar ao homem, superando, assim, o anacronismo clássico metafísico que norteava o pensamento teológico no entendimento da relação homem – DEUS.
A chamada Teologia da Libertação está inserida nesta última fase do pensamento ocidental que destacamos acima: a fase da valorização da história, da cultura e da diversidade de formas de manifestação do encontro do homem com Deus. Ela é uma teologia propriamente cristã; por isso, utiliza a Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos.
A expressão “teologia da libertação”, já mostra o sentido norteador deste discurso teológico. O genitivo que aparece na expressão citada – DA LIBERTAÇÃO -, mostra-nos que a libertação é o horizonte regulador do discurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus do discurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversos momentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia da libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob as quais um povo está submetido.
“A teologia da libertação é um movimento teológico que quer mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela pode contribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora” (MONDIN, 1980, p. 25). Neste sentido, o cristão é impelido a viver a práxis libertadora nas diversas épocas da história.
O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social, econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 60/70 do último século. Os teólogos deste período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico. Vejamos o quadro social da América Latina no período originário da teologia da libertação:
“O ambiente político é geralmente caracterizado pela presença de governos que administram o poder arbitrariamente em vantagem dos ricos e dos poderosos, fazendo amplo uso da força e da violência. (...) O ambiente econômico e social está marcado pela miséria e pela marginalização da maior parte da população. Os recursos econômicos são controlados por um pequeno grupo de privilegiados. (...) No ambiente cultural se verifica ainda uma notável dependência da Europa e dos Estados Unidos. Na ciência como na filosofia, na arte como na literatura, quase nada é concedido à originalidade das populações latino-americanas” (Ibidem, p. 25-26).
O quadro de degradação apresentado na América Latina é o fundamento gerador do conceito de libertação. A libertação, então, é toda “ação que visa criar espaço para a liberdade” (BOFF, 1980, p. 87). Ser livre, neste sentido, é não estar sob o jugo da lei alheia; é poder construir-se autonomamente. O processo histórico da América Latina foi e é dominado por diversas leis estranhas a ela. A América do Norte, em especial os EUA, e os países europeus, sempre impuseram aos latino–americanos seus valores, suas políticas, sua cultura, etc. Neste sentido, a libertação no seio da América Latina, é a luta pela liberdade da cultura, dos valores, da economia, da política latino-americanos, frente às diversas opressões advindas de um modelo imperialista que rege a práxis do hemisfério norte em suas relações com o hemisfério sul, especialmente como o povo latino–americano. Tal relação impõe ao hemisfério sul a cultura do hemisfério norte.
Devido à pobreza e à nefasta degradação do povo latino-americano, a libertação deve ser entendida como superação de um processo de exclusão; já que esta é a conseqüência direta da relação norte–sul, onde milhões de homens e mulheres empobrecem e se deterioram porque ficam à margem (excluídos) do processo econômico e político norteado pelo capitalismo imposto pelos EUA e Europa.
Desta forma compete à teologia da libertação a tarefa de discursar sobre Deus a partir da ótica de um processo excludente e a partir da realidade concreta dos excluídos. O teólogo da libertação, portanto, deve ter este duplo olhar: olhar para Deus e olhar para o excluído. Olhar para Deus é a fonte de toda libertação possível e o olhar para o excluído identifica onde há necessidade de libertação. Olhando para Deus – ou Cristo -, a teologia da libertação diferencia-se de todo movimento libertador laico, já que a libertação apresentada pela teologia enxerga nos processos históricos a possibilidade de presentificação da nova ordem escatológica anunciada por Cristo, ou seja, o Reino de Deus – ordem de justiça e da superação de toda opressão possível, na sociedade e no cosmos. Ao pretender olhar para o excluído e para o sistema gerador de opressão, como pressuposto de todo fazer teológico, a teologia da libertação difere-se radicalmente das teologias clássicas, pois supera o anacronismo destas, circunscrevendo a experiência de Deus no âmbito do engajamento do fiel na luta contra todo o sofrimento humano historicamente situado.
Para que haja elaboração da teologia da libertação é mister que se compreenda os fenômenos da opressão e da exclusão. Estes devem ser compreendidos através de uma mediação sócio – analítica, “Libertação é libertação do oprimido. Por isso, a teologia da libertação deve começar por se debruçar sobre as condições reais em que se encontra o oprimido de qualquer ordem que ele seja.” (BOFF, 1996, p. 40). O método utilizado para elucidar sócio–analiticamente o fenômeno da opressão e da exclusão pela teologia da libertação, é o método histórico- dialético.
O marxismo passa a ser a filosofia predominante na análise sócio–analítica feita pela teologia da libertação. Porém, o marxismo é utilizado como instrumento, não tendo fim em si mesmo. “Na teologia da libertação o marxismo nunca é tratado em si mesmo, mas sempre a partir, e em função dos pobres” (Ibidem, p. 45). O sentido último da teologia não é Marx, mas Deus.
Após a leitura sócio–analítica, o teólogo da libertação deve-se deparar com a Bíblia Sagrada. A Bíblia deve fornecer subsídios para que se possa identificar a face de Deus e sua ação libertadora, nos diversos momentos históricos, sob as quais vive o teólogo e seu povo. Há, então, no processo de elaboração da teologia da libertação, uma imbricação necessária entre a análise sócio–analítica da realidade e a Bíblia Sagrada. Esta última fornece o sentido teológico da práxis libertadora proposta pela teologia da libertação.
Com a gênese da teologia da libertação na América Latina, “a religião passa a ser um fator de mobilização e não do freio” (BOFF, 1980, p. 102). A religião não mais se apresenta como “ópio do povo”. Ela passa a ser fonte de libertação e de esperança para o homem. A religião, desta forma, não se reduz a uma ideologia que mantém o status quo social e político; também não é mais fonte de discursos etéreos. A teologia da libertação pretende mostrar que Deus não está em uma esfera trans–histórica; mas, ela quer mostrar que Deus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vida e esperança a um povo crucificado e sem sonhos. Podemos dizer, metaforicamente, que a teologia da libertação anuncia a ‘’descida’’ de Deus de sua esfera transcendente e “celeste” e mostra-o como agente dignificador dos humilhados da terra. Deus não é mais um conjunto de doutrinas e especulações, mas é a fonte de toda a luta pela justiça e igualdade. Por isso, Deus se manifesta nas lutas históricas pela justiça, pela inclusão e pela superação de toda opressão vigente na humanidade. “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”(Ex 20,2). Eis a face de Deus anunciada pela teologia da libertação: Deus que tira o povo da opressão, da servidão.
O céu almejado pela humanidade, não é pensado como realidade post mortem. Este céu que fora pensado pela teologia clássica como realidade distante que se manifestaria no porvir, encarna-se no “agora”, através da práxis do povo em prol da dignidade humana: cada conquista popular, no que tange a uma relação mais justa entre os homens, presentifica o céu no seio da humanidade.
A teologia da libertação surge para mostrar que Deus é “Pai – Nosso”; portanto os homens e as mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs, sem haver exclusão, sem haver opressão ou sem qualquer tipo de violação da dignidade humana. Lutar pela libertação é valorizar a paternidade universal de Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos os seres humanos.

Bibliografia:
1. BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: SBB, 1996.
2. BOFF, Leonardo, BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertação. Petrópolis: Vozes, 1986.
3. BOFF, Leonardo. Teologia do cativeiro e da libertação. Petrópolis: Vozes, 1980.
4. _____________ O caminhar da Igreja com os oprimidos: do vale das lágrimas à terra prometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980.
5. MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980.









Eu creio!

Eu creio no Deus Vivo, presente na luta do povo oprimido!

Eu creio no Deus de Amor a todos !

Eu creio no Deus que não tem religião e é a força de meus irmãos índios!

Eu creio no Deus que é Pai Verdadeiro de todos os povos:Do povo das florestas, do povo das ruas, do povo sem teto e do povo sem terra.
Do povo sem salário e sem trabalho, sem comida e sem remédio.

Eu creio no meu Deus que é o Deus que nos une e nos faz acreditar em um mundo melhor!

Eu creio no Deus que me faz parar de chorar e que abraça as crianças de rua!

Eu creio no Deus que me empolga e me faz crer na história !

Eu creio no Deus que me faz ter fé no dom de lutar que ELE nos deu.

Eu creio no Deus da Vida que não quer o mal de ninguém, que não castiga ninguém e que não mata ninguém!

Eu creio no Deus todo poderoso que nos criou por AMOR e nos faz AMAR!!!


*Laura Juliani *
.
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Amém!
Amem!
Amem-se!

O que é Cristianismo Libertário?





O libertário, consequentemente, considera que uma de suas primeiras tarefas é a de difundir a desmistificação e a de retirar a áurea de santidade do Estado entre seus felizes súditos. Sua tarefa é a de demonstrar repetidamente que não somente o imperador, mas também o Estado democrático está sem roupas, que todo governo é estabelecido por leis exploradoras sobre a população e que tais regras são o contrario que é requerido pela real necessidade. Ainda, luta para mostrar que a verdadeira existência do imposto e do Estado necessariamente estabelece uma divisão de classes entre os governantes exploradores e os governados explorados. Busca ainda demonstrar que a tarefa da “corte” dos intelectuais que sempre respaldaram o Estado existem para criar a mística idéia de que o Estado sempre existiu e induzir o publico para que o aceite bem como o seu Governo, e que estes intelectuais obtém em troca uma parte do poder e do lucro extraído pelos governantes e seus iludidos subordinados.


O Anarquismo cristão (também conhecido como cristianismo libertário) com base nos ensinamentos de Jesus defende que a única autoridade legítima é Deus e repudia qualquer autoridade secular, inclusive a Igreja enquanto instituição corrompida e denunciada no livro do Apocalipse. Alguns anarquistas cristãos se opõem ao uso da violência tanto para ataque como para defesa. Contudo, vertentes libertárias como a dos taboritas, sob o comando militar de Jan Zizka, baseadas em passagens como Evangelho de Mateus 10:34, Evangelho de Lucas 22:36, Eclesiastes 3:1-10, entre outras, não hesitaram em fazer uso da força enquanto instrumento de legítima defesa diante de bestas-feras destituídas de qualquer senso de humanidade.Os anarquistas cristãos se opõem a todo tipo de tirania local ou global, sugerem que há plena compatibilidade entre anarquismo e cristianismo, e argumentam que uma das razões pelas quais Jesus foi perseguido pelo governo romano, pelos líderes religiosos e pelo Sinédrio, foi porque foi visto como um anarquista, como uma ameaça ao status quo. Para eles, a liberdade é justificada espiritualmente através dos ensinamentos de Jesus, e que, na história, o desvio desses ensinamentos foi promovido principalmente por Constantino.Leon Tolstói, em seu livro O Reino de Deus está em vós, idealiza uma sociedade baseada na compaixão e em princípios não-violentos. A obra desse escritor russo influenciou Gandhi na luta pela independência da Índia. Tolstói acreditava que para a efetiva destruição do Estado bastava o não pagamento de impostos e a abstenção do serviço militar. Adin Ballou e Ammon Hennacy defenderam idéias semelhantes.Jacques Ellul embora recomendasse a atitude de Jesus de seguir "como ovelha para o matadouro" como ideal para o cristão, não deixou de colaborar com a resistência francesa contra a ocupação nazista promovida por Adolf Hitler.



Os ideais do anarquismo cristão estão presentes nestes movimentos


Anabatistas

Mennonitas

Amish

Quakers

Huteritas

Taboritas alguns dissidentes ingleses

Doukhbors

Movimento de Trabalhadores Católicos



Pensadores


Kierkegaard

Henry David Thoreau

Leon Tolstói Nikolai Berdayev

Ammon Hennacy

Jacques Ellul

Dorothy Day
Watchman Nee

underground... que papo é esse?


OS DEFORMADOS

OS SUJOS E DESPREZÍVEIS

OS INSANOS E LOUCOS

OS HIVs +OS TRANSEXUAIS

OS ANTI-CRISTO

OS DIFERENTES E ANORMAIS

OS SUBUMANOS

OS “ SEM DEUS”


ONDE ESTÃO ???


...CONFINADOS NOS ASILOS DOPRECONCEITO DE CADA UM

....GRAVADOS NO CORAÇÃO E NAMEMÓRIA DE UM DEUS SANTOE MISERICORDIOSO, QUE UM DIA HÁ DEJULGAR TODA A TERRA!
A visão
Os ministérios alternativos cristãos são destinados à evangelização de tribos urbanas e marginalizados sociais. O alvo principal é a juventude urbana que não se encaixa nos moldes da cultura dominante.
Os ministérios dedicam-se a levar o evangelho a esses jovens que vivem à margem da sociedade, undergrounds, nos guetos e “points” noturnos. Apesar de possuir características específicas, um dos princípios destes ministérios é de não ter a pretensão de fundar uma "nova" igreja, nem tampouco ser um grupo de cristãos exóticos fechados em si mesmos. Buscam o apoio moral e a cobertura espiritual de diversos líderes e igrejas de diferentes denominações. Não possuem nenhum vínculo com os modismos evangélicos ou movimentos sensacionalistas que atuam sobre a juventude como verdadeiros “animadores de auditório” da fé.
Pretendem penetrar nos “subterrâneos” e alcançar onde as igrejas normalmente não têm alcançado. São cristãos inconformados com a miséria que encontram em cada esquina da cidade. Não estão alienados frente aos problemas que as metrópoles do mundo enfrentam: a pobreza aumenta na mesma proporção em que proliferam seitas e alternativas exóticas de solução. São cristãos inconformados com a passividade dos que insistem em ficar reclusos dentro das igrejas, enquanto crianças mendigam nas calçadas e jovens cultuam a morte nas ruas escuras da cidade...
Sabem das dimensões faraônicas da crise que assola o planeta e, por isso, não tem a pretensão de levantar bandeiras utópicas. Querem, sim, fazer aquilo que já nos é possível: desenvolver os seus “ministério”, ou seus “projetos”, que é prestar assistência aos marginalizados sociais. O alvo principal são os jovens que normalmente não freqüentam “shoppings centers” e nem usam o tênis da moda. Os jovens “diferentes”, de aparência muitas vezes “agressiva”, vistos com receio pela sociedade. Querem conviver com essas pessoas que vivem à margem da sociedade, undergrounds, nos guetos malditos da noite. Acreditam e tem vivido que Cristo é uma alternativa melhor que as possibilidades que lhes chegam às mãos, melhor que as drogas e a violência. Querem quebrar esse ciclo marginal que se completa com a morte.Infelizmente muitas igrejas, perdidas em questões de hábitos e costumes, fecham as portas para aqueles que lhe são “diferentes”.
Não podemos fechar os olhos às revoluções culturais que se processam nas selvas de pedras, com o surgimento de tribos urbanas formadas por jovens sedentos de identidade e auto-afirmação.
POR QUE DESTES MINISTÉRIOS ?
Para se entender o homem é preciso compreender a sua origem e sua história. O homem é a conseqüência da evolução de fatos e sugestões que formaram seu pensamento, costumes e cultura.Entendemos o grito do renascentismo na Europa do Século XV, quando o imperialismo monárquico e a imposição absolutista do clero massacravam e sufocavam a sociedade da época que, como uma antítese, criou a hiper valorização do EU, a glorificação do humano: o humanismo.
As expressões filosóficas, artísticas, culturais e científicas demonstravam explicitamente o homem como o centro absoluto, gerando o individualismo desenfreado e a competitividade, onde vence quem é melhor! Homens como Shakespeare, Da Vinci, Camões, Erasmo de Roterdã, Galileu Galilei, William Harvey, André Vesálio e muitos outros influenciaram e influenciam ainda o pensamento dos homens através de suas obras e descobertas, trazendo mudanças no comportamento humano.
“Deus está morto!”
...Bradava Nietzsche às sociedades do século dezenove, em meio a um tormento existencial.
A humanidade vive sob a lei do “prazer aqui e agora”. Vários movimentos de libertação têm surgido nas últimas décadas. Nossos anseios e aflições fizeram de nós seres altamente insatisfeitos. Os movimentos são manifestações sinceras da não aceitação da cultura impositora que massacra os mais fracos e oprime as minorias.Revolução pós-guerra, “hippies”, revolução estudantil, neo-anarquismo, liberação sexual etc são alguns desses gritos por mudanças e respostas. Numa sociedade falida e injusta, o que resta é descrença no sistema e nas instituições, gerando o individualismo como forma de sobrevivência.
Muitos jovens têm o coração fechado para o evangelho porque têm no seu imaginário o exemplo da opressão da igreja católica romana em diversos séculos, conivente e participante da corrupção dos sistemas estabelecidos, e associam o cristianismo à imagem de igrejas tidas por eles como instituições falidas, contraditórias, desmerecedoras de crédito.
É necessário dizer a esse mundo -que já ouviu falar de Jesus-, que Cristo está acima e é muito mais do que os religiosos, bem ou mal, conseguiram mostrar. É preciso mostrar que Cristo é a possibilidade, o exemplo e a consumação do perdão, da justiça, da paz e da salvação.
A CULTURA DOMINANTE
Uma análise rápida de faces da cultura dominante nos permite entender o porquê do inconformismo de muitos jovens. Os anos 90 assistem à derrocada de sistemas que subsistiram durante séculos. As crises mundiais são mostradas diariamente pelos meios de comunicação. Caiu o comunismo e o Muro de Berlim, mas a crise é igualmente conflitante no mundo ocidental, onde aumentam as desigualdades sociais, a revolta, a miséria, o desemprego.
Os problemas estão em todas as partes. É simples quando percebemos que sistemas injustos e instituições repressoras são, na verdade, o reflexo da maldade, do pecado no coração dos homens. Os poderes estabelecidos possuem mecanismos de punição, porém, não têm interesse e fracassam nas tentativas de recuperação, porque eles mesmos, muitas vezes, são modelo de oportunismo e corrupção.Rubem Martins Amorese, secretário especial de ética da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), em artigo publicado no informativo “Convergência”(agosto 95), analisa que “a paternidade social está em crise”. Ele diz que o país empurra seus “filhos” para a contravenção e deseja que sejam honestos e éticos:
“aprovaram leis que transformam o Estado num cassino e não querem concorrência, mas ainda assim são capazes de grandes gestos de sensibilidade. Não desbaratam o jogo do bicho porque causaria grande desemprego. Há de se pensar nas famílias que vivem da atividade. O mesmo se diga de atividades alternativas e tantos outros meios de vida que florescem no lusco-fusco de uma legalidade criada por uma paternidade maculada, interesseira, gananciosa e elitista, além de fraca, trôpega, confusa, contraditória e culpada. A situação de violência urbana em que vivemos apresenta-se como um forte indicativo de que falharam todos na preservação de uma legalidade hipócrita e leonina. Uma legalidade com redação moderna e atual, mas com ranço de escravatura, discriminação, totalitarismo, dominação e elitismos”.
As penitenciárias fabricam criminosos de alta periculosidade por causa da superpopulação carcerária. Os presos por delitos banais (pequenos furtos), são encarcerados juntamente com seqüestradores, traficantes e homicidas. O primeiro censo penitenciário do país, elaborado pelo Ministério da Justiça em fins de 94, mostrou que há no Brasil 129.169 presos ocupando 59.954 vagas. Desse total, 95% são pobres e 30% estão presos por cometerem delitos banais como roubar tijolos ou uma lata de leite. Além disso, quase metade deles tem menos de 30 anos.
A Aids há muito tempo deixou de ser a “peste gay” e, a cada dia, contamina mais heterossexuais, mulheres e adolescentes. Vive-se, ainda, em constante tensão provocada pela violência nas grandes cidades. O problema do desemprego e a crise econômica que envolve todo o planeta, entre outros, motivaram o recrudescimento da xenofobia em diversos países. É preciso achar um culpado; assim, os dedos em riste se apontam para os imigrantes, para grupos étnicos, para as minorias.
Infelizmente esse caos tornou-se o cenário propício para a pregação dos arautos da “nova era”. A igreja precisa permanecer santa dentro dessa realidade e oferecer a possibilidade de se viver o “Reino de Deus” e contribuir para a transformação da sociedade injusta, corrupta, preconceituosa.
CONTRACULTURA - A História
Os grupos urbanos se diferenciam pelas formas próprias de se expressarem, pela ideologia político-social, pelas músicas, vestimentas, linguagem, inclinação religiosa (ou anti-religiosa). Para entendermos melhor a evangelização dos grupos urbanos, é necessário entender o que é contracultura e como ela influenciou e modificou a vida das pessoas nas últimas décadas.
Em termos gerais, “contracultura” significa cultura alternativa, a cultura marginal, cultura não-oficial. Podemos entender a contracultura, por um lado, como um conjunto de movimentos de contestação da juventude, um fenômeno datado e historicamente situado. Por outro lado, o termo pode se referir a uma postura de rebeldia e, como afirmou Luís Carlos Maciel (colaborador de diversos jornais “underground” nos anos 70), “um certo modo de contestação e enfrentamento da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às formas mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante”.
ANOS 50 - O mundo ocidental estava eufórico com o fim da II Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, celebrava-se o desenvolvimento tecnológico que alimentava cada vez mais o desejo consumista e motivava a afirmação do american way of life. Concomitantemente, porém, vivia-se sob a tensão da “guerra fria”, alimentada pela ameaça atômica entre os EUA e a União Soviética, e a perseguição a personagens da esquerda americana, o “macarthismo”.
Nesse contexto surgia uma nova geração de poetas, a beat generation, de um espírito contestador que rejeitava não somente os valores estabelecidos mas, basicamente, a estrutura de pensamento que prevalecia nas sociedades ocidentais. Assim, os beatniks criticavam o predomínio da racionalidade científica, tentando redefinir a realidade através do desenvolvimento de formas sensoriais de percepção. Esse pensamento antiintelectualista motivava a busca de experiências místicas através de filosofias orientais e de outras formas de consciência possibilitadas pelo uso de alucinógenos.
Pouco após o surgimento dos “beatniks”, surgem os hipsters, opondo-se aos square (os caretas, os quadrados), os conformistas bem ajustados ao sistema. Ao contrário dos beats boêmios e de certa forma românticos, os “hipsters” eram mais radicais em sua revolta contra as então modernas sociedades tecnocráticas. Assim, o “hipster” procurava se desligar da sociedade, existir sem raízes, empreender uma busca profunda de si mesmo. Uma das formas para se realizar isso, desafiando o desconhecido, era pela “delinqüência”.
Simultaneamente ao aparecimento dos “beatniks”, na década de 40 ainda. A década de 50 foi marcada, também, pelo surgimento do rock’n roll, aglutinando um público jovem que começava a fazer desse tipo de música a expressão de seu descontentamento e rebeldia, tornando inseparáveis a música (ou arte) e o comportamento. É a chamada “juventude transviada”, “com suas gangs, motocicletas e revolta contra os professores na sala de aula”, como lembra Carlos Alberto Pereira no livro “O que é contracultura”. O rock passaria a ser, então, a principal manifestação artística da contracultura e porta-voz da revolta, rebeldia e insatisfação.
ANOS 60 - “Flower power”, “paradise now”, “é proibido proibir”: estes foram alguns dos slogans mais repetidos pelos jovens nos anos 60. Em decorrência dos “beatniks” e dos “hipsters” surgiu o movimento Hippie, cuja maior filosofia era o binômio “paz e amor”.
Apesar de muitos pontos em comum (insatisfação com o sistema etc), os “hippies” se diferiam dos “hipsters” pela alegria. Enquanto os “hipsters” eram deprimidos e céticos, os “hippies” eram alegres, festivos e utilizavam as flores como símbolo. Durante essa década eles fizeram passeatas, promoveram festivais onde rolava sexo livre e se celebrava o uso das drogas, protestaram contra a guerra do Vietnã e curtiram a música de Bob Dylan, Beatles, Joan Baez e muitos outros vistos como referencial e porta voz da juventude. A música jovem (especialmente o rock), perdeu a inocência das canções de Elvis Presley e passou a ser baluarte da contestação política (Dylan), contra a guerra do Vietnã (Joan Baez) e das seitas orientais e experienciação alucinógena (Beatles, Rolling Stones).
ANOS 70 - No início da década morrem três ícones da contracultura: Jimmy Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Em dezembro de 1970 John Lennon declara que "o sonho acabou". Era a declaração oficial do fim do movimento e do sonho “hippie” de uma sociedade constituída no "paz e amor":Eu acordei para isso também. O sonho acabou. As coisas continuam como eram, com a diferença que eu estou com trinta anos e uma porção de gente usa cabelos compridos".
Na música "God", Lennon registra o “fim do sonho”:
“O sonho acabou/ o que é que eu posso dizer?/ o sonho acabou/ ontem, eu era um fabricante de sonhos/ mas agora eu nasci novamente/ eu era o Leão Marinho/ mas agora eu sou John/ e então meus amigos/ vocês têm de continuar/ o sonho acabou".
Separados os Beatles, John Lennon passa a posar como arauto da paz, com músicas filosóficas e fotografias com pombas brancas na cabeça.É a redescoberta da macrobiótica, da yoga, hare krisna, candomblé (no Brasil), lutas marciais, sessões de psicanálise etc.
As bandas de heavy metal faziam saudações satânicas em seus shows e, nos discos, músicas incitando ao uso de drogas, ao suicídio. Mensagens subliminares eram colacadas nas gravações. Em l976, porém, explode em Londres o movimento Punk, com uma espécie de anti-música criticando os músicos de “heavy metal” que haviam se transformado em estrelas, ou seja, haviam se aderido ao sistema do "showbiz". Os “punks” eram contra as religiões, contra as instituições, contra a sociedade, num discurso predominantemente anarquista.
Em texto publicado na revista “Manchete” (29/5/82, número 1571), o jornalista Irineu Guimarães analisava, assim, a crise da juventude dos anos 70:
-”Decorrente da crise do petróleo, a crise econômica mundial permitiu, pela primeira vez na história recente, que os países desenvolvidos e em via de desenvolvimento percebessem que o futuro econômico não era mais uma marcha regular rumo à prosperidade e rumo a níveis de produção e consumo cada vez mais elevados. De um dia para o outro, a noção de "sociedade de opulência" foi substituída pelo conceito de "sociedade de penúria". Os sociólogos descobriram um novo dicionário, cujos vocábulos chave passariam a ser: desemprego, superqualificação profissional, inadequação entre educação e mercado de trabalho, ansiedade, atitude de defesa, pragmatismo e luta pela sobrevivência. A descoberta repentina de insegurança e de incerteza de participação no arquétipo clássico do ciclo produção consumo fez explodir, em poucos meses, os mitos e as contradições que viviam disfarçadamente nas velhas definições da mocidade. De noite para o dia, os jovens descobriram que eram enganados e que contribuíam, pela sua própria maneira de ser em grupo, para a continuidade desse engodo. Eles vivem numa sociedade que os venera porque celebra neles a aventura, o sonho, a possibilidade de aderir ao delírio e de, a ele aderindo, modificar a realidade. Mas essa veneração é mentirosa. Porque, de fato, eles não tem a menor chance de participar na elaboração das propostas desta sociedade, de colocar na raiz da instituição sua própria criatividade, de inventar ou conquistar um espaço suficiente para seu sonho”.
Diante desse quadro, entendemos porque o filósofo Herman Hesse, autor da frase "quem quiser nascer precisa destruir o mundo", era o preferido da juventude da época.
ANOS 80 - Nos anos 80 se acentuou na juventude o individualismo, o cada-um-por-si. O yuppie, o jovem bem vestido e financeiramente bem sucedido, passou a ser o modelo a ser atingido pela juventude. Diversos líderes da contracultura dos anos 60 se tornaram empresários de sucesso. A Aids surgiu e colocou na berlinda a tão proclamada liberdade sexual conquistada nos anos 60. O protesto se organizou em diversos grupos, as ONGs (Organizações não Governamentais), que lutaram por causas diversas: grupos de homossexuais, grupos de apoio e prevenção à Aids, grupos de defesa da ecologia. A propósito, a natureza foi não apenas defendida mas, mais que isso, admirada e idolatrada, levantada à posição de solução ante ao mundo industrializado, poluído e artificial. Ao mesmo tempo, recrudesceram movimentos de extrema direita, como o neonazismo. O esoterismo atingiu status e prestígio, saindo de seus esconderijos e camuflagens e assumindo novas formas divulgadas por artistas e políticos, com amplo espaço nos meios de comunicação. Cresceu o número de bandas de “heavy metal” declaradamente satanistas, é o black metal. A pregação da “nova era” se intensifica, anunciando a Era de Aquarius já cantada pelos "hippies". Causas comuns de solidariedade, envolvendo jovens de todo o mundo, foram vistas em questões como a fome na Etiópia e a libertação do líder negro sul-africano Nelson Mandela.
CONTRACULTURA CONTEMPORÂNEA
Os anos 90 vivem o caos das grandes concentrações urbanas. As metrópoles do mundo inteiro atraem multidões à procura de novas oportunidades. Essa massa migratória traz consigo, evidentemente, seus hábitos, sua cultura. A diferença é que, se no passado, como no caso dos Estados Unidos, os imigrantes se adaptavam à cultura do novo país, isso não mais ocorre. Ao contrário do que alguns cientistas políticos anunciavam, de que os meios de comunicação de massa acabariam por nivelar e igualar culturalmente as pessoas, os grupos étnicos e as chamadas minorias se fortaleceram na manutenção de suas peculariedades, de seus costumes, fazendo ressaltar nas grandes cidades a diversidade cultural, a diferença. A propósito, aí reside o conflito cultural dos dias atuais. O mundo descobriu que as pessoas são diferentes e não sabe lidar com isso. E o diferente não está mais distante numa tribo africana ou numa ilha distante do Pacífico; o diferente está morando na casa ao lado, disputa o mesmo emprego, entra no mesmo elevador.Não existem mais grandes causas em comum que unam e mobizem jovens de diversas partes do mundo em forma de movimentos de protesto e contestação. A sociedade fragmentou-se. Talvez seja difícil as novas gerações entenderem mas, o termo "urbanidade", até os anos 50, era um elogio. O palavra "polidez", do mesmo modo, surgiu do substantivo "polis".A atual onda xenófoba norte americana contrasta com as características cosmopolitas das grandes cidades do mundo.A contracultura que antes tinha uma motivação, um slogan e um discurso político-ideológico, hoje, seculo XXI, se restringe a grupos que desejam apenas conquistar um grau de satisfação. Não somente os "rebeldes" e "transviados" mas, a própria sociedade contemporânea está-se organizando em torno de semelhanças culturais, de gostos sexuais, afinidades religiosas. O sociólogo francês Michel Maffesoli afirma que "em vez de se unirem em torno de um grande ideal democrático, as pessoas agora ficam juntas sem nenhuma afinidade, só pelo prazer, ligadas por valores muito próximos do cotidiano". (O Globo, 28.5.95)As minorias se organizam na luta por seus direitos. As ONGs se multiplicam e se fortalecem. Cresce a onda do "politicamemte correto". Somente no Brasil, por exemplo, existem atualmente mais de 60 grupos de defesa e miliância dos direitos dos homossexuais.
Maffesoli explica que "as grandes utopias foram substituídas por pequenas liberdades intersticiais, não estamos mais à procura da grande liberdade longínqua e utópica, mas da pequena liberdade no cotidiano, nos interstícios sociais; existe a exploração capitalista mas as pessoas conseguem encontrar pequenos espaços de liberdade no cotidiano; é uma conquista sem palavras, uma liberdade de sobrevivência, mas, apesar das dificuldades sociais, morais e econômicas, as pessoas vivem".As alternativas da “nova era” florescem e muitos jovens buscam respostas e soluções no ocultismo. A existência de fragmentos sociais transformou os grandes centros urbanos em verdadeiros universos, labirintos onde milhões de pessoas tentam achar sua saída. O homem "criou" suas próprias respostas, que vão do mais trágico humanismo -"tudo-ao-mesmo-tempo-agora"-, até o mais desesperador misticismo, onde o não racional e o engano ditam as regras.
IGREJA - Status Quo ou Alternativa ?
O cristianismo faz parte da humanidade há dois mil anos, mas sua mensagem foi revelada desde a queda do homem, registrada no livro de Gênesis.Deus ama o mundo, o cosmo (Jo 3:16), e este cosmo-sistema engloba todos os homens e sociedades (Ap 5:9).O evangelho de Cristo não é uma cultura; daí nao podemos impor os padrões da classe média ocidental como modelo do Reino de Deus. Na mentalidade tradicional evangélica, infelizmente são tidos como "salvos" apenas aqueles que se adaptam aos conceitos culturais e morais dos membros dos grupos religiosos. Errado também seria impor uma cultura diferente à sua ou um feldo religioso sobre os salvos.
Qual a resposta, então?
A palavra de Deus, a Bíblia, nos esclarece. Durante o ministério de Pedro, aprendemos sobre o respeito de Deus pelas culturas gentias, e o modo como ele interferiu no trabalho de Pedro que insistia em repudiar os não judeus. At.10:9-15,28,34,35.
Igrejas Racistas
Por incrível que pareça, enquanto vê-se o fim do apartheid na África do Sul, testemunha-se o acirramento da divergência racial nos Estados Unidos. A perplexidade maior, entretanto, é saber que é praticamente “normal” naquele país a existência de igrejas racistas. A gravidade desse racismo se comprova por fatos históricos recentes, como assassinatos de negros cometidos por adeptos da Ku Klus Klan, muitos deles membros e líderes de igrejas protestantes, após o culto dominical.Muita violência foi e tem sido cometida “em nome de Deus”. Esse é um dos piores sintomas da perfeita adequação da igreja ao “status quo”, ao sistema estabelecido. Isso mostra como a questão da diversidade cultural não é bem assimilada. Adequando-se ao “sistema”, muitas comunidades cristãs limitam a grandeza do Evangelho às suas preferências sociais, raciais, culturais e interesses políticos, ao invés de se constituirem como uma alternativa de vida para povos, grupos ou indivíduos marginalizados, estigmatizados, rejeitados.
Os anos de inércia da igreja medieval, indubitavelmente mais “romana” que “católica” permitiram, por exemplo, que o Islamismo surgisse, florescesse e chegasse a diversos povos, os quais nunca haviam ouvido falar de Jesus e até hoje não conhecem a mensagem do Evangelho. Como consequência temos hoje a estatística de que uma religião que não professa o nome de Jesus é a que mais cresce no mundo!!!
A REVOLUÇÃO DE JESUS
Felizmente, milhões de pessoas no mundo, apesar das diferenças culturais, têm conhecido o amor de Jesus através de cristãos realmente compromissados com o Reino de Deus.Apesar de ignorados pela história oficial, todos os séculos tiveram testemunho de cristãos piedosos tementes a Deus. Na história contemporânea não é diferente. Desde os anos 50, por exemplo, pessoas se dedicaram a proclamar o evangelho simples e puro, escoimado de preconceitos e preferências pessoais, à juventude desiludida à procura de novas respostas.Larry Normam compunha rock e blues com mensagens cristãs e, através de seu trabalho. muitos jovens se converteram ao cristianismo no auge da revolução hippie que marcou os anos 60. A propósito, se os hippies procuravam a paz e o amor, certamente que não podiam deixar de receber o testemunho sobre a verdadeira paz e o verdadeiro amor vindos de JESUS.Assim, muitos hippies se converteram e passaram a pregar o evangelho da mesma forma alegre e descontraída, com suas roupas e colares coloridos, através de sua música. A geração do “flower power” não podia mais associar o cristianismo a longos sermões, listas de obrigações e à retórica das religiões.O novo “fenômeno” chamou atenção das igrejas e da imprensa mundial, recebendo o nome de Jesus Revolution”. O Reverendo Normam Vincent Peale fez, na época, a melhor e mais simples análise do surgimento do Jesus People. Em depoimento publicado na revista “O Cruzeiro” (22.11.72), Peale dizia:-”
De certa forma, os cristãos tradicionais são responsáveis pela “Revolução de Jesus”. Durante anos poucos estenderam a mão e assistiram a mocidade no momento em que se processava um vácuo espiritual. Todos os sinais estavam ali: insatisfação com materialismo e endinheiramento, impaciência com formas obsoletas de culto, anseio de auto-realização (buscado), primeiro, através da música rock, depois, sob várias espécies de misticismo e, finalmente, pelas drogas. Padres e pastores ficavam em seus gabinetes remexendo papéis, preocupados em construir templos e rever orçamentos. Outros até chegaram a providenciar programas de ação social bem intencionados, mas com dieta pobre para os espiritualmente famintos. Muitos olhavam para os jovens e não gostavam do que viam. ‘Afastem-se’, nós lhe dizíamos, ‘vão tomar um banho e cortar o cabelo; aceitem os nossos valores; voltem, então, e conversaremos’. E o que foi que aconteceu? Um milagre, de certo modo. Sem grande ajuda nossa, alguns desses jovens que procuravam nortear-se saíram tateando, tropeçando, e conquistaram o seu caminho, até encontrarem ALGUÉM tão majestoso, tão cheio de amor e transbordante de vida que encheu por completo o vazio de suas existências”.
Peale, nesse depoimento, dizia ainda que os cristãos “austeros e convencionais” tinham muito que aprender com a inflamação desses jovens, inclusive reaprender a vibrar com o encontro de CRISTO, “desenterrando-o do túmulo da história e de suas mentes”...A mesma reportagem registrou, ainda, o depoimento do Cardeal gaúcho Dom Vicente Scherer, apontando “um aspecto positivo e promissor do ‘Jesus People’”: -”Parece um bom sinal que os próprios jovens, investindo com uma audácia que raia pela temeridade, quais novos bárbaros, contra ídolos influentes e erros dominantes, voltem seus olhos para Cristo em busca de rumos de autenticidade, de refúgio de de libertação”.
REZ - Naquela mesma época surgiu um grupo que, unido até hoje, é o melhor remanescente da “Revolução de Jesus”: a banda “Ressurection”, ou “Rez”. Os membros da “Rez Band” vivem em comunidade num bairro pobre da cidade de Chicago. A comunidade funciona como “um refúgio para pessoas machucadas à procura de vida; usuários de drogas tentando livrar-se dos velhos hábitos; homens e mulheres que tiveram uma experiência com Cristo na cadeia, foram libertados e agora precisam de um novo lugar que os ajude a permanecer no caminho de Deus; pessoas que desejam se libertar do homossexualismo; jovens cujos pais necessitam de assistência”. (Informativo “Cornnestone” l992). Para o pastor Glenn Kaiser, líder da igreja “Jesus People”, “uma comunidade não pode sobreviver se ela não se prestar a algo maior do que ela mesma, viver a serviço dos outros”.
COMUNIDADE S8 - Simultaneamente ao surgimento da “revolução” nos Estados Unidos, acontecia, no Brasil, movimentos cristãos voltados aos jovens envolvidos com a contracultura. Dentre eles, destacou-se o trabalho da Comunidade S 8, situada em Niterói, Rio de Janeiro. Seu fundador, pastor Geremias Matos Fontes (ex-governador do Estado do Rio), iniciou o trabalho na garagem de sua casa, no começo dos anos 70, onde reunia jovens cabeludos e drogados e pessoas com diversos outros problemas. O ministério se expandiu e até hoje acolhe e orienta pessoas marginalizadas, como homossexuais, dependentes químicos e portadores do vírus HIV. Uma das características marcantes da S 8 é a sua produção musical, com ritmos e poesias originais e peculiares, registrados em mais de cinco Lps ao longo desses 20 anos de atividades.
A RESPOSTA
JESUS CRISTO: a resposta de Deus para uma humanidade morta e falida. “Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida, juntamente com Cristo - Pela graça sois salvos” (Ef.2:5).Deus ama a cidade e tem um propósito para ela. Existem na Bíblia centenas de citações sobre cidades, como podemos ver, entre tantas, em Gn 22:15-17; Nm 35:1-8; Jz 4:11; Lc 2:1-7,11; At 8:4-8; Hb 12:22 e, finalmente, a Cidade de Deus, projetada e calculada por Ele, Ap 21:9-27. Quando entendemos qual a nossa expressão no Corpo de Cristo e qual a nossa função na história, aí realmente iremos “despertar”. Só há uma alternativa para nós: a igreja. Recebermos um despertamento vindo de Deus que nos acorde do sono da omissão (Ef 5:14-16).
Enquanto gritamos “maranata!”, enquanto fechamos nossos olhos e nos recusamos a olhar ao nosso redor, Satanás trabalha intensamente, deixando suas digitais na história e na cultura dos homens, além de um rastro milenar de destruição.Entendemos que a Igreja de Cristo é a representante legal da graça de Deus. Não podemos adulterar o nosso “produto” e nem fracassar no nosso papel. Precisamos entender os conceitos urbanos de “tribos”, para poder alcançá-las; além disso, devemos estar atentos à realidade dos diferentes grupos étnicos que convivem nas metrópoles. Não podemos continuar omissos e indiferentes em face a uma turbulenta virada de século. Precisamos analisar se o nosso pensamento evangélico está alicerçado na “Palavra da Vida” ou na cultura européia do século XIX, trazida pelos primeiros missionários.
Precisamos ser sinceros com a nossa geração. Respostas etéreas e chavões religiosos não satisfazem as necessidades e não respondem os questionamentos da humanidade do final do século XX.Cremos no potente amor de DEUS por todos os homens e na veracidade de sua palavra que nos “limpa” de todo erro e engano.
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” (Jo 8:32)
Elaborado por Fábio Ramos de Carvalho e Geraldo Luiz da Silva (out/95).
A reprodução ou transcrição do texto é permitida desde que devidamente citada a fonte.
Maiores informações ou contatos: CAVERNA DE ADULÃOCaixa Postal 1512 - BH/MGCEP: 30161-970
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
-BÍBLIA SAGRADA - Tradução de João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica do Brasil. Brasília, l969.-O Evangelho e a Cultura - A Contextualização da Palavra de Deus - Comissão de Lausanne. 3a edição. ABU Editora e Visão Mundial, 1991.
-PEREIRA, Carlos Alberto M. O Que É Contracultura. 2a edição. Brasiliense, 1984.
-SCHAEFFER, Francis A. A Igreja do Final do Século XX. 2a edição. Brasília: Sião, l988.
-TAVARES, Carlos A. P. O Que São Comunidades Alternativas. 1a edição. São Paulo: Nova Cultural/Brasiliense, l985.
-MENDONÇA, Antônio Gouvêa, FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. 1a edição. São Paulo: Edições Loyola, 1990.
Periódicos:-Revistas: “Veja”, “Manchete”, “O Cruzeiro”, “Fatos & Fotos”.
-Jornais: “Convergência” (AEvB), “Folha de São Paulo”, “O Globo”, “O Estado de São Paulo”, “Jornal do Brasil”.

E TATTOO, PODE?



CUIDADO PARA NÃO SERMOSOS JUIZES DE DEUS...

Texto fora do contexto é pretexto para heresia...Bem, antes de falar acerca do assunto, falarei de mim e meu contexto... Tenho um Studio em BH e sou piercer, estou totalmente inserido no mundo da tatuagem e do piercing. As tattoo’s e piercings que tenho foram feitas após a minha conversão e todas as tattoo’s têm um significado pra mim que denota a minha fé.

Afirmar que o corpo é templo do Espírito Santo é uma verdade inquestionável, só que o referido texto (I Co 6:19) fala de prostituição, de profanar o templo de Deus com o pecado, e nenhuma alusão a qualquer coisa que lembre tatuagens, piercings, comer pimenta, e afins.

Acredito que Deus possa falar ao coração de uma pessoa acerca de tatuagens e piercing’s, com o propósito da mesma não fazer, ou até mesmo retirar as que têm, não duvido disto, porém não podemos esquecer que Deus trata com cada um de forma pessoal. Os planos d'Ele para a vida de uma determinada pessoa não são os mesmos para a minha, e ambos podemos fazer a vontade Dele. Com certeza, Deus não faz acepção de pessoas, e sendo assim, exatamente por este motivo, uma pessoa que tenha os itens relativos a este pequeno estudo, podem ser alcançadas pela mesma graça redentora. Rebeldia é algo muito mais complexo do que tatuagem e/ou piercing. Desrespeitar os pais, não amar seu próximo, julgar as pessoas pela aparência, com certeza é rebeldia.

Bem antes da época de Jesus, piercing’s e tattoo’s já existiam (Gn 24:22 e 47). Se "pendente de nariz" não é uma perfuração, então não sei mais o que é.Poderemos ser a imagem de Jesus a partir do momento que vivermos o que ele viveu, cumprirmos seus designos e vontades, olhar as pessoas como Cristo olhou, sem preconceitos e verdades pessoais, mas cheio de bondade, amor e as "boas novas do evangelho".

O que fazer?

O que a Bíblia fala: Se sua consciência (cristã, é claro) te condena, não faça. Sou membro da Caverna de Adulão, um ministério Underground que trabalha TAMBÉM com pessoas que usam um visual diferente, tatuagens e piercings; pra mim, é uma questão cultural, é algo que gosto e que Deus nunca me cobrou.


PIERCINGS, EVANGELHO E CULTURA.
Sandro Baggio

Piercings estão cada vez mais comuns em nossos dias. Algo que há menos uma década era olhado com reprovação e preconceito, é hoje visto em homens, mulheres, jovens e até crianças. Se a sociedade parece estar aceitando esses adereços cada vez com mais naturalidade, os cristãos parecem confusos a respeito. Afinal de contas, a questão da aparência ainda é assunto de grande discussão e controvérsia em muitos círculos evangélicos.

A primeira coisa que precisamos ter em mente quando o assunto é aparência pessoal, é que se trata de algo que muda com o tempo e com o lugar. Usos e costumes estão diretamente ligados à cultura.

Basicamente uma cultura é formada por três elementos: cosmovisão (a maneira como um povo vê o mundo), sistema de valores (o que é importante para aquele povo) e normas de conduta (o modo como um povo se comporta, e isso dizem respeito tanto à vestimenta, como ao modo de se relacionar com os outros, etc.).

Culturas são diferentes de acordo com sua cosmovisão, valores e normas de conduta. Arrotar em público após uma refeição é totalmente aceitável (e até louvável) em certas culturas, e repugnante em outras. Uma mulher com os seios à mostra é normal em muitos países da África (onde a mesma mulher não pode exibir as pernas acima do tornozelo) enquanto que o mesmo é obsceno em outras partes do mundo. Beijar na boca em público é normal aqui no Brasil, mas pode levar alguém à cadeia em certos países islâmicos. Nestes mesmos países islâmicos, um homem não pode andar de mãos dadas com sua esposa, mas pode andar de mãos dadas com outro homem. No Ocidente tal prática evoca idéias de homossexualismo. E por aí vai. Todas essas coisas são formas de expressão cultural.

Podem ser um insulto ou algo escandaloso para os de fora (que não fazem parte da cultura), mas não são necessariamente erradas para quem é daquela cultura.O fato é que nenhuma cultura é totalmente igual à outra e nenhuma cultura está acima da outra. João viu no céu povos de todas as tribos, raças, línguas e nações (grupos étnicos). Todas as culturas possuem elementos que precisam ser valorizados e outros que precisam ser transformados pelo Evangelho.

Sendo a aparência pessoal é uma questão de expressão cultural, esta aparência também muda de acordo com a cultura. Pinturas na face e no corpo estão presentes em diversas culturas. Na Polinésia, os nativos usam a tatuagem para escrever sua história familiar no corpo. A tatuagem e o piercing no umbigo eram comuns no Antigo Egito. Alguns povos usam piercing, brincos e outras formas de alteração do corpo (body modification ou simplesmente body modi).

O problema é que o mundo está ficando pequeno. Estamos nos tornando cada vez mais uma aldeia global. Esta globalização faz com que certos costumes que antes só eram vistos em algumas culturas isoladas e lugares remotos da terra, comecem a se tornar moda em todo o mundo. A tatuagem de henna é um exemplo recente desta realidade.

E quem são os responsáveis pelo lançamento da moda em nosso mundo? Os meios de comunicação em massa, que muitas vezes mostram artistas, músicos e cantores usando determinada roupa, adereço, estilos diferentes muitas vezes copiados por nós, ou porque não dizer, copiados de nós. Isto mesmo!!!

Citando dois exemplo: Os Rapper’s americanos não inventaram um estilo de roupa e ornamentos, eles já existiam, porém foram popularizados pela mídia. A popularização de alguns costumes orientais no Ocidente teve forte influência dos Beatles, quando estavam em sua fase “Flower and Power”. Muitas das batas, camisões e pantalonas que vemos hoje em nossas ruas, praças, e até na igreja, foram uma influência direta da que é chamada a “maior banda de todos os tempos”, porém, são “politicamente aceitas” por muitas de nossas lideranças.A popularização do piercing foi em 1993 com o vídeo clipe "Cryin", do Aerosmith, onde Alicia Silverstone apareceu com um piercing no umbigo. Uma banda de rock, uma balada romântica, uma jovem atriz linda. Elementos essenciais para fazer a moda pop ou cultura pop, que nada mais é do que uma mistura de culturas e costumes do mundo pós-moderno.

Sweet, professor metodista e um dos mais interessantes pensadores cristãos de nossa época, comenta sobre tatuagens e piercings em seu e-book recente "The Dawn Mistaken For Dusk". Ele diz que, a razão pela qual "body modi" é o assunto nº.1 nas listas de discussões e bate-papos de jovens cristãos com menos de 30 anos nos EUA, é pelo fato disto fazer parte da cultura jovem pós-moderna atual (e quase global), uma cultura onde a imagem é altamente valorizada.

A ironia disso tudo é que cirurgias plásticas e implante de silicone são coisas cada vez mais aceitas pelos cristãos modernos. Tem personalidades famosas do mundo evangélico brasileiro com o corpo siliconado. Todavia, como diz Sweet, "Cirurgia plástica é uma forma severa de alteração do corpo. Isto é aceito, mas brincos e tatuagens, não são?”.

Na Bíblia lemos à história de Isaque que deu a Rebeca uma argola de seis gramas de ouro para ser colocada no nariz (piercing) e, após fazer isto, ajoelhou-se para adorar a Deus. Penso que se o primeiro ato fosse pecado ou considerado pagão, então Isaque não teria adorado a Deus em seguida.

No livro de Êxodo, percebemos que as mulheres dos hebreus usavam brincos e argolas, os quais foram oferecidos como oferta dedicada ao Senhor para a construção do Tabernáculo. Novamente, não penso que Deus aceitaria de seu povo ofertas que representassem costumes pagãos.

O texto mais intrigante para mim se encontra em Ez 16.11-12: “Também te adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e linda coroa na cabeça” (ARA), onde o próprio Deus diz que adornou Jerusalém com jóias, pulseiras, colares, argolas para o nariz e brincos para as orelhas. Ao que parece, tais adornos não eram uma ofensa ao Senhor.

Uma vez que a Bíblia parece não condenar o uso de piercing, por que deveríamos nós?

Nosso desafio não é condenar, mas orientar as pessoas (principalmente os jovens) para os riscos que existem em fazer estas coisas sem uma orientação profissional e cuidados de higiene e saúde.

A pessoa está consciente dos riscos de inflamação, doenças contagiosas e "efeitos colaterais" diante da sociedade? Está consciente de que algumas alterações são irreversíveis e, mesmo diante da possibilidade de reversão, podem deixar marcas para o resto da vida? Mais ainda, precisamos falar sobre questões de identidade, valor pessoal e auto-imagem. Pois são estas as questões mais importantes para quem está considerando qualquer forma de alteração do corpo, seja uma plástica no nariz, implantar silicone, colocar um piercing ou fazer uma tatuagem.


TATUAGEM
EXEGÊSE E HERMENÊUTICA

Podemos perceber que a palavra tatuagem tem sido muitas vezes tratada de forma repugnante no meio cristão, mas nem sempre é explicado o porque.O propósito deste breve estudo é analisar a palavra utilizando o contexto em que ela foi empregado para assim, compreendermos o seu emprego nas Escrituras.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS:

Lv 19:27-28 – “Não farão calva na sua cabeça e não cortarão as extremidades da barba, nem ferirão sua carne. Santos serão ao seu Deus e não profanarão o nome do seu Deus, porque oferecem ofertas queimadas do SENHOR. Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR.

”Dt 14:1-2 – “Filhos sois do SENHOR, vosso Deus; não vos darei golpes, nem sobre a testa fareis calva por causa de algum morto”. Porque sois povo santo do SENHOR, vosso Deus, e o SENHOR vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio.

ANÁLISE DOS VERSÍCULOS-

Não ferireis a vossa carne.

-Essa é uma proibição contra as mutilações. Muitos povos pagãos lamentavam-se desse modo pelos mortos. Quem lamentava por um morto cortava-se como se fosse um sinal de consternação pela morte de um parente ou amigo, pensando que isso adicionava algo à sinceridade de sua lamentação. Tais atos eram estritamente proibidos em Israel. (Jr 16:6, 41:5; Lv 21:5 e Dt 14:21).

- Nem fareis marca nenhuma sobre vós.

A tatuagem era praticada entre várias nações antigas, algumas vezes em conexão com as práticas da idolatria. Figuras, marcas ou letras eram tatuadas sobre a pele mediante a injeção de tintas na epiderme. Queimar com ferro em brasa era outra maneira de tatuar. Um escravo tinha a marca de seu proprietário impresso sobre ele; as prostitutas também eram assim marcadas; palavras sagradas eram tatuadas na pele dos adoradores pagãos.

- Eu sou o Senhor.

Essa forma, como aquela mais completa, “eu sou o Senhor teu Deus”, assinala divisões no livro de Levítico, o que acontece por dezesseis vezes, só neste capítulo dezenove de Levítico.

Formar os cabelos em curva redonda nas têmporas e na barba, ou a incisão de padrões na pele faziam parte das práticas pagãs de luto, e, como tais, eram proibidas. Desfigurar a pele, que provavelmente incluísse alguns emblemas das divindades pagãs, desonrava a imagem divina de Deus. A perda de um ente querido devia ser aceita como parte da vontade de Deus para a vida do indivíduo, e nenhuma tentativa deveria ser feita para propiciar o falecido de qualquer maneira.

ANÁLISE LEXOGRÁFICA

Esta palavra portuguesa vem do Taitiano “tatau”, a reduplicação da palavra “ta”, que significa “marca”, “sinal”. Está em foco, uma marca indelével, feita mediante técnicas próprias, picando a pele e inserindo algum pigmento sob a mesma. Embora, provavelmente, não haja nenhuma alusão direta à técnica da tatuagem nas páginas da Bíblia, essa tem sido considerada uma interpretação possível em três situações aludidas na Bíblia, a saber:

1. Oth – sinal

Palavra usada por setenta e nove vezes no Antigo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Gn. 1.14; 4.15; Ex. 4.8,9, 17, 28,30; Nm. 14.11; Dt. 4.34; 6.8,22; Js. 4.6; Jz. 6.17; I Sm. 2.34; II Rs. 19.29; Ne. 9.10; Sl. 74.4,9; Is. 7.11,14; 8.17; Jr. 10.2; Ez. 4.3; 20.12,20.

O termo Grego correspondente é semeîon - sinal -, usado por quarenta e oito vezes, conforme se vê, por exemplo, em: Mt. 12.38; Lc. 2.12; Jô. 2.18; At. 2.19, 22, 43; Rm. 4.11; I Co. 1.22; II Co. 12.12; II Ts. 2.9; Hb. 2.4; Ap. 15.1.

2. Chaqaq - gravação, cavar

Com esse sentido, é usada por duas vezes: Is. 22.16 e 49.16. Na última dessas referências, a idéia é que, gravando os nomes de Seu povo em Sua mão, jamais se esqueceria deles.

3.Seret - incisão, corte

Essa palavra só aparece em Lv. 19.28, onde se lê: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR”. O termo Seret é traduzido ali como ferireis. Isto pode até parecer uma clara proibição do uso de tatuagens, entre os judeus.

Alguns tem pensado que o trecho de Lv 19.28, sem dúvida, alude à prática da tatuagem. Mas, embora algumas versões estrangeiras tenham traduzido o vocábulo hebraico seret, ali usado, como tatuar, os estudos feitos quanto aos costumes de lamentação e luto pelos mortos indicam freqüentes associações de cortes feitos no corpo ou pinturas, com o raspar dos cabelos, mas nunca com tatuagens, que se revestem de outro sentido. Por semelhante modo, qualquer situação retratada nas Escrituras que possa ser interpretada como indício da prática das tatuagens tem base meramente conjectural, e não se escuda sobre qualquer inferência etimológica ou etnológica.

CONCLUSÃO

Nos comentários das Bíblias de Estudo de Genebra e Plenitude, apenas relatam o fato de não marcarem o corpo com mutilações por causa dos mortos, não referindo diretamente à prática de Tatuagem.

Contudo observando historicamente as práticas de outras nações, o povo de Israel é advertido a não praticar tais atos para que não fossem confundidos, e por tais atos estarem diretamente ligados à idolatria e à prostituição.No âmbito geral da situação, percebemos que isso era uma prática cultural, não transcendendo, em alguns casos, aos dias de hoje.

É importante lembrar, que não devemos ser escândalo para nossos irmãos:Rm 14:13 - “Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes o seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão”.II Co 6: 3 - “... não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado”.
A prática da tatuagem nos dias de hoje tem sido uma forma de expressão por parte de muitos jovens. Ao contrário dos tempos em que Israel foi advertido, a tatuagem hoje tem um sentido bem diferente. Isso não isenta algumas culturas de praticarem o ato como forma de idolatria, mas no Brasil o sentido tem sido apenas uma forma de expressão.

Meu comentário pessoal e crítico sobre o assunto é que a tatuagem não impede a pessoa de ter um relacionamento intimo com o Senhor, porém deve-se observar alguns pontos antes de se fazer uma tatuagem.Devemos antes de tudo preservar a santidade, no que se diz respeito ao corpo e o fato de que podemos estar servindo de motivo de escândalo e zombaria de outrem.

Todas as palavras acima também são cabíveis ao uso de Body Piercing, Cirurgias Plásticas, Lipoaspirações e qualquer tipo de dilaceração do corpo que não seja necessário à saúde. Sendo assim, toda forma de dilaceração que não há envolvimento com os rituais pagãos não se encaixam em Lv. 19:28 - Texto esse que muitos tomam como base para proibirem a tatuagem.

Apenas um pequeno comentário acerca de um erro de exegese ocorrido por quem defende o uso de tatuagens, mostrando assim que uma tradução mal feita do texto da margem para erros de ambas as partes:

Apocalipse 19:16: “No manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores.”Em algumas versões, o termo “escrito o nome” é trocado por tatuado.

Vamos quebrar a frase:

Sintaticamente, temos o seguinte:

- Sujeito da Frase: Coxa- Objeto Direto da Frase: Nome- Vocativo referente ao sujeito: No Manto

Por definição temos que vocativo é:

"...É uma referência à 2ª pessoa, um apelo, um chamado, e é usado para o nome que identifica a pessoa (animal, objeto etc.) a quem se dirige e/ou ocasionalmente os determinantes de tal nome. Uma expressão vocativa é uma expressão de referência direta, em que a identidade da parte a quem se fala é expressamente declarada dentro de uma oração..." (retirado do Wikipedia)

Portanto, o que quer dizer na frase não é que o nome esteja tatuado na coxa, mas sim escrito no Manto na altura da coxa.

Vamos ao original em Latim:

19:16 - et habet in vestimento et in femore suo scriptum rex regum et Dominus dominantium.

Ressalto que o verbo empregado é SCRIPTUM, ou seja, escrito!!! Para que seja tatuado, o verbo a ser utilizado deveria ser PINGERE, ou seja:

19:16 - et habet in vestimento et in femore suo pingerum rex regum et Dominus dominantium.

Em Grego temos:

19:16 - kai ecei epi to imation kai epi ton mhron autou to onoma graphammenon basileuV basilewn kai kurioV kuriwn.

O verbo “escrever” em grego é: graphon; já o verbo “tatuar” em grego é: prosanagrapheia.


O QUE É ESCANDALIZAR???

Alguns preferem adotar uma postura mais defensiva sobre o assunto sem se aprofundar demais em debates, dizendo que tais adereços devem na verdade ser evitados porque são "escândalo".

Não devemos "escandalizar". Mas o que é "escândalo"?

Jesus disse que "é impossível que não venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos." (Lucas 17:1,2).

A conclusão lógica a que chegamos então é que se eu uso um visual diferente do resto da massa e alguém me vê e se "escandaliza" (no sentido que eles dão à palavra), então, de acordo com o versículo, seria melhor que alguém amarrasse uma pedra de moinho no meu pescoço e me jogasse no mar.

Será isso que Jesus quis dizer? Creio que não.

A palavra "escândalo" no grego é "skándalon" (de onde se derivou a palavra portuguesa escândalo) e significa tropeço ou armadilha, símbolo daquilo que incita ao pecado ou à perda da fé.

Escândalo é todo ensino, palavra, obra ou omissão que incita o outro a pecar.

Um visual underground por si só não é escândalo no sentido bíblico do termo. Escândalo seria, em nosso caso, o exemplo citado anteriormente neste texto em que uma mulher é levada a usar um piercing no umbigo apenas por uma motivação luxuriosa. Agindo assim, ela voluntariamente poderia despertar em outras pessoas desejo sexual por estar expondo determinada parte de seu corpo, ou seja, poderia estar incitando alguém a pecar. De outra forma, não é escândalo.

Particularmente, conheço muitas mulheres (não cristãs inclusive) que têm piercing no umbigo mas que nunca vi usando uma blusa que o expusesse; dizem que o usam simplesmente porque gostam. Não há problema algum nisso.

Quando os setenta (ou 72, há dúvidas) tradutores do Velho Testamento para a língua grega (a Septuaginta), por ordem e encomenda de Ptolomeu II, encontraram um termo hebraico que se referia ao comportamento que levava a uma "queda" moral - o que não tinha exata tradução - socorreram-se da palavra grega clássica skandalon, "obstáculo", algo que causava um tropeço. Uma pedra no meio do caminho, por exemplo, era skandalon. Fossem paisagens tropicais, skandalon podia ser uma simples casca de banana.

A palavra passou-se depois para a Bíblia latina, a Vulgata, onde se encontra, em várias passagens, a palavra scandalum. O sentido moderno de "escândalo" evoluiu, e não é mais só a causa de uma queda; é também o seu efeito público. Por outro lado: se dissermos ser salutar evitar um escândalo, soaremos... óbvios.Óbvio? Pois ÓBVIO é - na raiz - precisamente isso, "o obstáculo evitado", já que é formação latina de ob-, "em direção a" + viam, "caminho", estrada", donde o "óbvio" ser um caminho livre, é claro! [Francês medieval SCANDALE, "causa de pecado" <>

COM RELAÇÃO À SENSUALIDADE E VAIDADE...

Bom, na grande maioria das vezes, o piercing, a tatuagem, a maquiagem, a cirurgia plástica tem caráter puramente estético.A sensualidade não está no piercing ou tatuagem que uma determinada pessoa possa estar usando, independente do lugar, mas está na pessoa.

Existem pessoas tão "sem sal" que mesmo esta usando a roupa mais decotada do mundo, um piercing do tamanho de um puxador de cortina, ela continua "apagada". De contra partida, existem mulheres e homens, que independente de acessórios, chamam a atenção para si quase que naturalmente.Dentro de nosso contexto evangelical, acho que o melhor a se pensar é o porquê de você querer usar um piercing ou uma tatuagem, independente de qualquer outra coisa.Claro que as tatuagens que tenho e os piercings que coloquei estão ligados a não apenas meu estilo de vida, mas também a questões estéticas, o problema é deixar este lado tomar conta de você e te controlar.

Uma pessoa que não usa "nada", pode ser muito mais vaidoso que eu, por exemplo (este "nada" acima esta diretamente ligado ao fato de não ter nenhuma tatuagem ou piercing, mas usar um terno "Armani", uma Gravata “Louis Vuitton”, uma caneta “Mont Blanc”, Cuecas “Christian Dior” ou mesmo um relógio “Tag Heuer”).

Vaidade é tudo aquilo que toma o espaço de Deus em nossa vida, o vazio completado pelo vazio.Alguém pode aparentar ser “a pessoa mais humilde de mundo”, e usar desta sua "humildade" para se alto promover, mostrando as demais que é mais humilde que elas (soberba). Estranho, né??? Mas, infelizmente, real.Fiz esta ressalva, a fim de deixar claro o meu ponto de vista acerca da sensualidade.

Em um site “Gospel” (porque protestante e/ou evangelical não é e nunca será...), li certa vez que para cada piercing que uma determinada pessoa aplica, a mesma consequentemente "abre brechas" para um determinado demônio atuar em sua vida:

Nariz - significa “domínio”;
Sobrancelhas – “aprisionamento da mente”;
Orelhas “aprisionamento em áreas específicas”;
Umbigo – “males digestivos”;
Lábios – “domínio da fala”;
Genitais – “prostituição”

.Será que os cravos colocados em nosso salvador abriram brechas para demônios no momento da crucificação???

Isto é ridículo, patético e sem nenhuma base hermenêutica nem exegética. Nada disto é mencionado na bíblia.

Qual a fonte então??? Algum demônio disse, pois se está for à fonte, menos crédito devemos dar, pois é sabido de todos que ele é o "Pai da Mentira".Entristece-me saber que a falta de sinceridade, de conhecimento teológico e em casos extremos, de caráter em alguns ministérios, faz com que mentiras sejam ensinadas a pessoas simples, única e simplesmente por medo de se perder o controle das mesmas que ali congregam ou de ser criticado por pessoas religiosas e cheias de si, mas com muito pouco de Deus......e o pior, comprova a carência de bíblia e a falta de sabedoria de muitos evangelicalistas.


PROIBIR É MAIS FÁCIL QUE ENSINAR...

Deus nos abençoe muito.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAMPLIM, RUSSEL N. - Antigo Testamento Interpretado
Versículo por Versículo. - Ed. Hagnus.
CHAMPLIM, RUSSEL N. - Enciclopédia da Bíblia Teologia e Filosofia - Vol. 6-S/Z - Ed. Hagnus.
BOYER, O.S. - Pequena Enciclopédia Bíblica. - Vida.
HARRISON, R.K. - Levítico - Introdução e Comentário - Ed. Mundo Cristão.
MACHO, ALEJANDRO DIEZ; BARTINA, SEBASTIÁN - Enciclopédia de la Bíblia - Vol. 6-Q/Z - Ed. Garriga.YOUNG, BRAD H. - Comentário de Levítico - Bíblia de Estudo Plenitude.Vários Teólogos - Comentário de Levítico - Bíblia de Estudo de Genebra.
BAGGIO, SANDRO – Material disponibilizado pela internet (pastor do Projeto 242 em São Paulo).,
SAMUEL LIMA – Material disponibilizado pela internet.
CRUZ, VLADMIR BARBEIRO DA – Material disponibilizado pela internet.
Textos encontrados em vários sites da Internet.

Rodrigo Joubert é proprietário do Studio “Toast Body Art”, em Belo Horizonte – MG.

Estudou Teologia no Seminário Teológico Evangélico do Brasil – STEB, com especialização em Grego pelo Departamento de Línguas Clássicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e pastoreou a Igreja Batista Nova Aliança, em Nova Lima, Grande BH

Atualmente congrega da Comunidade Caverna de Adulão.