quinta-feira, 12 de junho de 2008

A MPB nossa de cada dia nos dá hoje!





Sinceramente, não dá pra entender o ódio mortal que alguns cristãos sentem em relação a nossa Musica Popular Brasileira. Ou melhor, dá pra entender sim... esse pensamento é o simples reflexo de um povo que foi “colonizado” espiritualmente por uma mentalidade estadunidense-européia e hoje sofre nas mãos dos “brasileiríssimos” apóstolos da “teologia do gueto” (aquela que afirma que tudo de fora é do diabo e tudo de “dentro” é de Deus).


Quanto à música, então, nem se fala! Música que não louva a Deus, é do diabo!


Meu Deus!!! De onde tiraram essa idéia? Onde ficam a poesia, a arte, a beleza, o romantismo? Será que estamos mesmo fadados a sermos reféns das rádios evangélicas e suas “maravilhosas” canções românticas? Será que só poderemos ouvir a “poesia” dos mantras repetitivos e infindáveis? Não poderemos mais ouvir os nossos chorinhos lindos e estaremos à mercê dos chorões de auditório? Será que o meu Brasil-brasileiro-mulato-branco-moreno-e-negro cairá sob a bandeira de Israel e seus shophares mágicos?


A implicância com a música brasileira ao meu ver tem dois motivos, ambos impregnados na mente de nosso povo e já considerados como “doutrina bíblica” por muitos.


O primeiro motivo é por ser... “música”. Como assim?


Há algum tempo atrás surgiu uma “doutrina”, dessas que surgem de vez em quando e fazem aquele estrago imenso, onde se dizia que Lúcifer era “ministro de louvor” no céu, daí entender tanto de música e saber usar a seu favor essa maravilhosa arte. Logo, a música que não era pra louvar a Deus, só poderia ter outra fonte: o gramunhão! Daí rejeita-se QUALQUER coisa que não tenha o rótulo de “evangélico” e, mais recentemente, o melhor dos rótulos: “gospel” (assim acaba de vez qualquer tentativa de ser brasileiro).


Essa idéia errônea atribui mais poder ao diabo do que a Deus. Ora, Deus é criador de tudo e tudo o que é realmente belo vem dEle, é o que se chama na teologia de “graça comum” (é claro que o conceito de graça comum é bem mais amplo, mas fiquemos aqui na beleza...). Não há beleza que não venha de Deus. Lembro-me de uma música do MILAD, em seu álbum “Retratos de Vida”. A música chama-se “Platéia” (Toninho Zemuner – Alexandre Rocha) e diz:


“Pra começo de história

Entre acordes e tons,

Onde Chicos e Miltons

Fazem os sons...

(...)

Ah! Se todos soubessem

De onde vêm esses dons,

(...) A fonte é Deus,

Essa fonte de vida...”


Essa “teologia” ainda foi mais fomentada quando Raul Seixas deslanchou com “Rock do Diabo”, onde afirmava que “o diabo é o pai do rock”. Quanta ingenuidade a nossa!!! Estamos fazendo com a música a mesma coisa que fizemos com o arco-íris, entregando coisas divinas ao movimento gay e à Nova Era como se realmente o arco-íris fosse um sinal diabólico, totalmente contrário aos planos de Deus. Ignorância! Ignorância Bíblica! A única coisa que o diabo conseguiu ser pai é da mentira (João 8.44) e é exatamente em sua especialidade que ele coloca na mente dos cristãos que tudo o que não é da IGREJA não é de DEUS.


Mas isso também depende dos “frutos” (entenda-se aqui frutos como propaganda, marketing, e principalmente LUCRO). Até pouco tempo atrás futebol era uma coisa do diabo. Isso até os mais famosos jogadores se dizerem evangélicos e aí os pastores, ávidos por aparecerem na mídia ao lado de seus fiéis... sacralizaram o que até então era diabólico. Hoje ninguém mais comenta que futebol é do diabo e que a bola é o “ovo do capeta”. Deixou de ser há muito tempo, desde quando começou a trazer frutos e dividendos pro “Reino”.


Em tempo: não sou contra o futebol. Pelo contrário!!! Sofro como flamenguista; gosto de bater uma pelada com amigos; de ir ao Maracanã quando dá tempo torcer pro Mengão; em épocas de copa do mundo, paro pra assistir todos os jogos do Brasil, e como bom brasileiro estou torcendo desde já pelo hexa da nossa seleção.


Pois bem, o diabo nunca foi ministro de louvor no céu (só se isso fizer parte de algum livro apócrifo), e o máximo que ele pode fazer é deturpar aquilo que Deus criou, mas nunca ser pai de alguma coisa. A música é um presente de Deus à humanidade, que pode ser utilizada em seu louvor, como também simplesmente para demonstrar sentimentos belos como o amor, a saudade, o carinho, sonhos, etc.


Essa idéia faz com que a música seja olhada como a pior arte, arte exclusiva de Satanás. Não vejo ninguém recriminando um filme, uma poesia, uma escultura, uma exposição de quadros... tudo isso é arte. Só não pode haver música!!! Se houver música, na cabeça de muitos, a coisa passa a ter um outro dono: o diabo. Todas as outras artes podem ser apreciadas, sem problema algum, menos a música. Santa ignorância! Santa hipocrisia!


É claro (e é aqui que está o cerne da questão) que há a boa música e a música ruim. Não dá pra ter prazer ouvindo “Vem Tchutchuca, vem aqui pro seu tigrão” ou “Hoje é festa lá no meu apê... vai rolar bundalelê”. Mas não podemos julgar o todo pela parte ruim. Há música ruim na MPB? Claro que há! O que faço? Não ouço! É simples... Há música boa na MPB? Claro que há! O que faço? Ouço... e louvo a Deus por ter dado ao homem (mesmo o que ainda não O conhece pessoalmente) essa capacidade “divina” de harmonizar letra e música, verbo e melodia... isso é dom de Deus!!! Não vem do diabo, como muitos querem.


Experimente ouvir de coração aberto “Toada” (Boca Livre); “Sapato Velho” (Roupa Nova); “Aquarela” (Toquinho); “Eu Sei que Vou Te Amar” (Vinícius); “Sucedeu Assim” (Tom Jobim); “Vieste” (Ivan Lins) e muitas outras músicas lindas de nossa MPB e você entenderá o que estou dizendo...


E outra questão precisa ser levantada. Há música boa no meio evangélico? Claro que há! O que faço? Canto, toco, ensino nas igrejas, etc... Há muita porcaria no meio evangélico? Claro que há! O que faço? Não ouço e nem recomendo. É simples também! E ainda cabe alertar o povo de Deus contra o engano desses “senhores de gravadoras” que comandam o mercado gospel e enfiam goela abaixo os seus queridinhos e suas músicas “de Deus”.


Portanto, antes de “julgarmos” os de fora, julguemos a nós mesmos. Nossa qualidade musical, conteúdo, as maracutaias no meio “gospel”, a máfia das rádios evangélicas e de seus donos-sempre-candidatos-políticos, o uso do nome de Deus em vão para enriquecer pilantras e enganar o povo, etc...


A segunda questão que creio ser fundamental para a não aceitação da MPB por parte de alguns evangélicos é o simples fato de ser... Brasileira! A igreja evangélica no Brasil tem a péssima mania de só considerar sacro o que “vem de fora”. Há a rejeição latente aos ritmos brasileiros, a miscelânea cultural que é a nossa pátria tupiniquim.


Instrumentos de origem africana são quase sempre associados aos cultos do candomblé, a riqueza de sons e ritmos é sempre associada ao folclore, ao popular, e a arte popular é profana... indigna de se cantar “pra Deus”.


É comum em casamentos, processionais, recessionais, e outros momentos “instrumentais” em igrejas as grandes composições de Bach, Beethoven, Haendel... mas não há espaço pra Carlos Gomes, Villa-Lobos, Waldemar Henrique, Radamés Gnattali, entre outros...


A música genuinamente brasileira é sempre olhada de lado. Bom mesmo é o que vem de fora... que nos sirvam de provas os grandes hits do “louvor brasileiro” que em sua maior parte é composta de versões do Hosanna Music, Hilsong Church, Michael W. Smith, etc. Não estou dizendo que isso não possa acontecer. Há músicas boas que podem, e devem ser traduzidas, mas por que tanto preconceito com o que vem de dentro de nosso solo, da mãe gentil e pátria amada? Por que João Alexandre, Jorge Camargo, Nelson Bomilcar, Carlos Sider, Carlinhos Veiga, Atilano Muradas, Arlindo Lima, Sérgio e Marivone (Baixo & Voz), Gláucia Carvalho e outros tantos não são conhecidos da grande maioria dos evangélicos brasileiros? Falta de talento e inspiração? Não!!! Falta de vergonha das nossas rádios e dos mega-empresários da fé. Falta de vergonha de uma igreja que nunca chegou a ser brasileira de fato.


Nossas raízes européias e estadunidenses devem ser respeitadas. Foram eles que atravessaram mares para nos pregar o Evangelho da graça. Mas somos brasileiros. Em nosso corpo e em nossa mente há uma ginga inegável, um requebrar sadio que não se contem ao som dos tambores, atabaques, violas, violões, cavaquinhos, e tantos outros instrumentos.


Voltando ao nosso assunto (MPB). A lógica que cabe no meio “gospel” também serve para a nossa cultura. Somos sempre tentados a não valorizar o que temos de bom. Temos poetas maravilhosos, compositores fenomenais em nossa MPB e em nome de uma fé totalmente equivocada desperdiçamos a chance de crescermos como brasileiros, como músicos, como poetas ao nos recusarmos a ouvir o que há de bom do lado “de fora” do nosso gueto.


Que reconheçamos em todas as coisas belas, e até mesmo na boa MPB, traços do criador, resquícios da imagem de Deus ali pulsantes em alguém criado à sua imagem e semelhança. Creio firmemente que Deus não punirá aqueles que ouvem a boa música brasileira, européia, estadunidense, africana... Ele ainda é Senhor de todas as coisas, mesmo que muitos dos que se dizem seus “filhos” não queiram...



José Barbosa Junior

4 comentários:

Yuri Padilha disse...

Cara,

ótimo texto.

Nem tenho mais o que comentar.

Resumindo (e utilizando o título do seu blog): Vamos ao Cristianismo Liberário!

Precisamos.

Fabiana Santos Correa disse...

Parabens pela postagem, pelos argumentos... tudo se encaixa.. e concordo que nao devemos deixar de lado ou olhar torto para a musica brasileira!!!! Eh isso ai mesmo ... devemos nos orgulhar e valorizar tudo aquilo que Deus criou poxa... inclusive o arco-iris (rsrsrsrs)...Bjao e fique com Deus...

Unknown disse...

Atualiza isto ae mancebo... Deus te abençoeeeeeeeeeeeeee

Leonardo Gonçalves disse...

Paz Mano,

Excelentes publicações. Gostei deste espaço. Acho que vou estar sempre por aqui.

Se tiver um tempo, passa "lá em casa" (blog Púlpito Cristão) pra tomar um café.

Abraço fraterno,

Leonardo
www.pulpitocristao.com